A necessidade de falarmos sobre algo que iremos viver: a velhice
Por João Henrique Viana*
Sabe aquele modelo de velhice que retrata um idoso de bengala, encurvado, cabelos brancos, óculos, sentado em uma cadeira de balanço, sem perspectivas, apenas esperando o tempo passar? Esqueça essa imagem!
Se você (ainda) acredita que essas características descrevem o sinônimo de ser idoso, preciso esclarecer que elas merecem outro nome: AGEÍSMO. Criado em 1969 pelo médico psiquiatra e gerontologista americano Robert Neil Butler, o termo é empregado para descrever a discriminação empreendida contra as pessoas mais velhas.
INFLUÊNCIA DAS DIVAS POP NA CULTURA E COMUNIDADE LGBTQIA+
Ninguém sabe dizer exatamente quando ou onde esse fascínio pelas Divas Pop começou, mas o fato é que a comunidade LGBTQIA+ aclama grandes cantoras e as enaltece tornando-as Divas.
Algo que possa talvez nos levar a entender um pouco do porque desta ”glorificação” da comunidade para com essas cantoras são questões como a identificação e a representatividade que suas atitudes e posicionamentos geram.
Em sua maioria, elas se apresentam como figuras independentes, positivas, fortes, empoderadas e assim inspiram LGBTQIA+s e, principalmente, os gays, o que faz deste público a maior parte dos fãs destas artistas.
AGEÍSMO. Criado em 1969 pelo médico psiquiatra e gerontologista americano Robert Neil Butler, o termo é empregado para descrever a discriminação empreendida contra as pessoas mais velhas.
Dos anos 70 até os anos 90, mulheres como Madonna, Donna Summer, Diana Ross, Debbie Harry, Joan Jett, Patti Smith, Janet Jackson, Cyndi Lauper, Cher, Paula Abdul, Grace Jones, Courtney Love, Mariah Carey, Lil’ Kim, entre muitas outras, ajudaram a erguer os pilares desse segmento que é a cultura pop.
Mas por que agora, no novo século, elas são tratadas como se não pudessem mais expressar sua feminilidade enquanto artistas, porque para o grande público, parece um ABSURDO uma mulher na casa dos “enta” cantar sobre sua sexualidade ou usar qualquer tipo de figurino mais ousado, pois ela está “velha demais” para isso.
AGEÍSMO E SEXISMO? TEMOS!
Todas essas grandes musas não perderam seu talento com a idade, muito pelo contrário, ele foi lapidado e tende a aumentar conforme as experiências vão sendo adquiridas.
E enquanto homens parecem ganhar cada vez mais espaço na música enquanto envelhecem, as mulheres vão sendo excluídas gradualmente.
Você não vê críticas a Mick Jagger ou a Iggy Pop andando sem camisa pelo palco, por exemplo. O que se vê são elogios pelo seu “vigor físico” e “muita atitude” mesmo tendo mais de 70.
POR QUE?
Por que descartamos nossas divas?
Por que as jogamos no mesmo ringue de cantoras no auge da juventude?
Até mesmo a “geração do milênio” um dia terá mais de 40 anos e será chamada de “velha”. Então, por que somos tão maldosos com mulheres que foram e ainda são símbolos tão grandes não só para a história, mas para nossas próprias histórias?
MADONNA AJUDA A ENTENDER
Muito antes do Instagram e das selfies, a popstar já mandava nudes para o mundo.
Era comum que ela aparecesse nua em videoclipes, livros e álbuns. Claro que, com um celular na mão, não seria diferente. A cantora publicou uma foto em frente ao espelho usando uma muleta e fazendo topless. Mas, em 2020, as reações não foram das melhores. Em uma foto com seminude postada no Instagram, de muletas por conta de seu tratamento no joelho, o puritanismo e o ageísmo tomaram de conta nos comentários.
“Eu nunca acho que estou lutando contra a idade. Estou apenas continuando com a minha vida como sempre fiz. Eu nunca fiquei complacente. Eu nunca me senti confortável (…) Se você continuar se colocando em situações novas e desafiadoras, então você se mantém vivo e jovem”, declarou ela ao site The Cut.
Por que descartamos nossas divas? Por que as jogamos no mesmo ringue de cantoras no auge da juventude?
“BONECA REMENDADA COM FITA CREPE E COLA”
Uma das críticas expressas pela mídia internacional insinuou que “Madonna teria perdido a mão” na sua nova música e videoclipe “por conta da idade”. Isso porque ela manteve, nada mais, nada menos, do que o estilo com que sempre levou a vida e marcou sua carreira, transformando-se em ícone da música pop mundial: uma performance cheia de sexualidade e irreverência.
FILME SOBRE O AGEÍSMO NA MÚSICA
No filme “A Batida Perfeita” (“The High Note”), a protagonista é Grace Davis, uma cantora que não ousa fazer novas músicas para se manter segura na carreira e por medo de ser vítima de ageísmo, o preconceito relativo à idade.
Sua intérprete é Tracee Ellis Ross, atriz, modelo, comediante, produtora e apresentadora de TV que, agora, aos 47 anos, está realizando o sonho de ser cantora.
E enquanto homens parecem ganhar cada vez mais espaço na música enquanto envelhecem, as mulheres vão sendo excluídas gradualmente.
Algo surpreendente, considerando que Tracee é filha da dona de uma das vozes mais consagradas do mundo: Diana Ross, que, aliás, aos 75 anos, é um tremendo case de sucesso diante do ageísmo.
Nos vemos na próxima semana. Fiquem bem e até breve!
João Henrique Viana* é professor universitário na área de Marketing e pesquisa comportamentos do consumidor e memes há 15 anos. Desde 2015, decidiu usar suas plataformas online para educar por meio de conteúdos didáticos e fontes confiáveis.