“Bem-Vindo à Chechênia” escancara perseguição de Putin a LGBT enquanto o mundo finge nada ver

Por Eduardo de Assumpção*

“Bem-Vindo à Chechênia (Welcome to Chechnya, EUA, 2020)” é o terceiro documentário do repórter investigativo, e agora cineasta, David France, de “Como Sobreviver a uma Praga”. É uma das representações mais dolorosas da vida LGBTQIA+ contemporânea que teremos que assistir.

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O filme usa a tecnologia do deepfake para disfarçar muitos de seus personagens e com razão, pois aprendemos que as pessoas LGBTQIA+ na república da Chechênia, no sul da Rússia, estão enfrentando uma ameaça existencial muito real nas mãos do líder Akmad Kadyrov, um déspota nomeado por Vladimir Putin que une suas forças para “limpar o país” de qualquer pessoa que se identifique como homossexual.

Nos coloca no meio de uma rede de apoio improvisada que surgiu em 2017 em resposta a uma escalada de ataques orquestrados à comunidade. David Itseev tornou-se um coordenador do movimento clandestino que ajudou a levar pessoas da Chechênia para esconderijos russos e, em conjunto com organizações internacionais, para asilo em outros países.

Ao longo do filme, veremos o quão difícil e perigoso isso é enquanto vemos sua equipe, incluindo a igualmente determinada e destemida Olga Baranova, que tenta resgatar a filha de um político checheno que enfrenta ‘crimes de honra’ se suas preferências sexuais forem reveladas à sua família.

O outro protagonista do filme é “Grisha” cuja identidade real é revelada no final do longa à medida que o artifício digital se desfaz , um cidadão russo torturado na Chechênia, cuja família inteira se torna um alvo e cuja bravura se torna uma luz brilhante em um mar de tristeza.

A perseguição sistemática, tortura e assassinato é oficialmente negada, discretamente encoberta por Putin e dificilmente notada internacionalmente.

A perseguição sistemática, tortura e assassinato, tanto pelo Estado quanto por “crimes de honra” por parentes – de lésbicas e gays é oficialmente negada, discretamente encoberta por Putin e dificilmente notada internacionalmente.

Com precisão jornalística, James France confronta a situação catastrófica das pessoas queer na Chechênia. Perturbadoramente direto e profundo, o documentário em si é uma das poucas chances de resgate dos perseguidos e um lembrete de que diante o terror ainda há bondade na face da Terra. Disponível no @telecine

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib