“Transversais” é retrato urgente e consciente de como acontecimentos políticos afetam uma comunidade

Por Eduardo de Assumpção*

Após tentativa de veto do atual governo, devido ao conteúdo ser considerado ‘impróprio’ pelo regime, o documentário cearense “Transversais” (2021), de Emerson Maranhão, foi impulsionado e ganha ainda mais luz e visibilidade com sua chegada à @netflixbrasil. O filme acompanha a vida de cinco pessoas que possuem em comum o fato de a vida ser atravessada pela transexualidade.

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Érikah é professora, Samilla é funcionária pública. Caio é paramédico, Kaio Lemos é pesquisador. Mara é jornalista e mãe de uma adolescente trans, Lara. Os cinco têm origens, formações e classes diferentes. Mara Beatriz, única mulher cisgênero na produção, também encarou a transfobia de frente ao tomar conhecimento que era mãe de uma adolescente trans. Atualmente ela é uma das ativistas mais fervorosas no grupo Mães pela Diversidade no Ceará.

A produção acompanha seus personagens, retratando suas vidas cotidianas, suas vivências e reflexões sobre identidade de gênero, família, relacionamentos, além de confissões e desabafos, que vêm acompanhados de um bocado de dor. O documentário ganha força quando começa a se aprofundar, em seus personagens, que contam casos de enfrentamento transfóbico, assim como suas conquistas.

O material é enriquecido por imagens captadas e o poder está no próprio depoimento dos personagens que agrega muito valor. O filme ainda mostra que a classe de cada um pode moldar o tipo de opressão social que será sofrida. A fotografia salienta essa discussão através de closes iluminados de rostos que estiveram nas sombras por tanto tempo.

A ideia original era fazer uma série documental, de 5 episódios, para a televisão, mas a tentativa de proibição por parte do Governo Federal fez com que o produtor Allan Deberton, diretor de “Pacarrete” (2019), conseguisse com sucesso realizar um longa. “Transversais” se apresenta como um retrato urgente e consciente de como acontecimentos políticos afetam uma comunidade.

A realidade de um país consumido pela intolerância, consegue comover o espectador em alguns momentos de partir o coração. Disponível na @netflixbrasil

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib