“Do Começo ao Fim” é corajoso e fala do incesto homossexual com graça e beleza inacreditáveis

Por Eduardo de Assumpção*

“Do Começo ao Fim” (Brasil, 2009), de Aloizio Abranches, é corajoso e trata não só da questão do incesto, mas do incesto homossexual, com graça e beleza inacreditáveis. Às vezes, os eventos apresentados são retratados com tanto amor e ternura que é difícil não se comover, apesar de quaisquer dúvidas e julgamentos que se possa ter sobre a composição do relacionamento.

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O filme, narrado por um Thomás (Rafael Cardoso) adulto, conta as primeiras semanas após seu nascimento, durante as quais ele não abriu os olhos até se sentir pronto. Aquele momento em que decide que está na hora coincide com a visita de seu meio-irmão um pouco mais velho, Francisco, ao hospital, e quando Thomás abre os olhos, ele olha direto para Francisco.

Seis anos depois, os meninos mostram um vínculo notável. Apesar de serem meio-irmãos e morarem no Rio de Janeiro com a mãe radiante interpretada por Julia Lemmertz e o pai do jovem Thomás, Alexandre (Fábio Assunção), todos se dão muito bem, e há uma grande amizade entre esses dois pais e o pai de Francisco, Pedro (Jean Pierre Noher), que mora em Buenos Aires.

Felizmente para eles, um ambiente tão aberto e amigável não rejeita ou questiona sua relação íntima, apesar das suspeitas dos pais de que o comportamento de seus filhos não é algo que eles estão acostumados a ver. Francisco (João Gabriel Vasconcellos) assume o papel não apenas de irmão mais velho, mas de protetor de seu irmão, a quem trata com amor e atenção. Como Thomás admite na locução, seu irmão sempre se certificou de que ele estivesse feliz.

Embora não seja surpresa que a relação entre os dois se torne física quando eles se tornam jovens, essa atração nem sempre é apresentada na tela com a mesma abordagem cuidadosa e as cenas de sexo seguem em uma linha tão pesada, quanto o tema focal do filme.

A estranheza do tabu social é redimida por inúmeros momentos de ternura e delicadeza que unem Thomás e Francisco ao longo do tempo, e percebemos que existe beleza em um relacionamento que não nasceu do sexo, mas nasceu do amor construído ao longo de uma vida inteira de memórias compartilhadas. Disponível no @youtube

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib