“Rainha Diaba” tem argumento de Plínio Marcos e é inspirado na figura mítica de João Francisco dos Santos, o Madame Satã
Por Eduardo de Assumpção*
“Rainha Diaba” (Brasil, 1974) Quando os créditos de ‘A Rainha Diaba’ aparecem na tela, ao som de ‘Índia seus cabelos’, somos avisados que todos os personagens são ficcionais, porém sabemos que o argumento do dramaturgo Plínio Marcos, se inspirou na figura mítica de João Francisco dos Santos, o Madame Satã.
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O longa, de Antônio Carlos da Fontoura, é um marco por ser um dos primeiros no cinema brasileiro, em plena ditadura, a trazer o protagonismo negro e homossexual, ainda que esse viesse acompanhado de bandidagem e caricatura. ‘A Rainha Diaba’, interpretada pelo gigante Milton Gonçalves tem um reino aos seus pés.
Administrando o tráfico, ela mora em um cenário kitsch, atrás de um bordel, com homossexuais, travestis, prostitutas e a cafetina, vivida por Yara Cortez. Há até uma referência ao clássico ‘Navalha na Carne’, também de Plínio Marcos, com um dos personagens gays se chamando Veludo. Com um de seus protegidos, Robertinho, correndo o risco de ser preso, a Rainha bola um plano para que um bode expiatório seja pego no seu lugar.
Mas a partir daí, a trama toma outros rumos, com o inabalável reinado de Diaba sendo ameaçado. “Como pode uma bicha comandar a boca?”, Catitu(Nelson Xavier) conspira contra a traficante e para isso conta com a ajuda do belo Bereco(Stepan Nercessian), um malandro que só quer se dar bem e está envolvido com a prostituta Isa, interpretada por Odete Lara.
A propósito da diva do cinema nacional, ela protagoniza duas belíssimas cenas, onde canta ‘La Mujer que no se Asoma’ e ‘Molambo’, na boate Leite da Mulher Amada, onde ocorre parte da ação. Quando Milton Gonçalves aparece se maquiando no espelho, vemos a força e o poder da personagem. A Diaba sabe que querem derrubá-la, mas armada de sua navalha, não permitirá que isso aconteça.
O ato final de ‘A Rainha Diaba’ possui um total estágio de histeria. O desfecho de seus personagens não é algo difícil de prever, porém esse filme, é um pioneiro na abordagem de figuras LGBTQIA+ no cinema nacional. Um triunfo exibido em versão restaurada no último Festival de Berlim(@berlinale).
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*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib