“Monica” é uma exploração lírica e comovente do amor, compaixão, perdão, reconciliação e cura da dor

Por Eduardo de Assumpção*

“Monica” (Itália/EUA, 2022) Monica (Trace Lysette), uma mulher transgênero, está afastada de sua mãe, Eugenia (Patricia Clarkson), há 20 anos. Quando descobre que Eugênia está doente, ela volta para sua cidade natal para ajudar a cuidar dela. Ela também reencontra seu irmão, Paul (Joshua Close), que chega lá com sua esposa, Laura (Emily Browning) e seus filhos.

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O diretor Andrea Pallaoro e o corroteirista Orlando Tirado tecem uma exploração lírica e comovente do amor, compaixão, perdão, reconciliação e cura da dor emocional. Monica se permite ser apresentada como uma estranha e se muda para a casa de Eugênia. Durante a maior parte do filme, Monica atua como cuidadora de sua mãe. Eugênia fica perplexa com sua presença.

Algo traumático claramente aconteceu entre a mãe e Monica, há 20 anos, que levou ao afastamento delas. O filme não foca nesse trauma, mas sim nas consequências durante um momento de adversidade que une a família. Trace Lysette proporciona um desempenho comovente como Monica. O ritmo se move lentamente como um certo anacronismo.

A câmera fica próxima e pessoal com planos, em proporção quadrada, que aumentam a sensação de intimidade e crueza. Pallaoro é italiano, e assim como a Monica de Lysette em longas tomadas em que ela está presa em composições atrás de portas, janelas e em espelhos enquanto faz ligações para pessoas que parecem tê-la abandonado, soa como o diretor estivesse referenciando os filmes que o mestre Michelangelo Antonioni fez nos anos 1960, com Monica Vitti.

Pallaoro e o corroteirista Orlando Tirado nos dão apenas fragmentos das histórias de fundo dos personagens, e isso funciona bem porque sua angústia atual é mais interessante e mais dramática do que o que aconteceu com eles no passado. Embora silencioso, o filme é embalado por uma trilha pop e retrô, com canções clássicas de bandas como New Order, Pulp, The Blaze, Moderat, Patty Bravo e The Easybeats.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib