Cantora trans lírica lança clipe contra a patrulha de gênero que se instaurou no Brasil

Quando o pai de Alessandra Lima cantava na Rádio Nacional do Rio de Janeiro talvez não imaginasse que a filha também seria uma diva da voz, como as famosas cantoras com quem dividia os microfones da tradicional estação. Aquela criança que cresceu ouvindo o pai não poderia ter outro destino além de espalhar seu talento se apossando do microfone cheia de propriedade.

Com uma irmã e uma sobrinha também cantoras, fica claro que o dom é de família, uma família que sempre acreditou no potencial de Alessandra e a incentivou a cantar desde muito cedo. “Eu canto desde criança. E há uns cinco anos comecei a estudar canto lírico na Itália, na Academia de Firenze”, lembra.

Um aperfeiçoamento que ela desenvolve com aulas de canto e exercícios diários. Os resultados são nítidos no mais novo lançamento da cantora, o clipe “The Singing of Freedom”, onde ela interpreta “Gymnopédie”, de Erik Satie, com maestria para provar seu talento.

Ao mesmo tempo, se mostra conectada aos desafios LGBT e faz não apenas um clipe, mas um manifesto. Cantando o canto da liberdade que batiza a música, Alessandra veste um figurino politizado, além do close, além do glamour, além do carão.

Rosa e azul contra a caretice

Esvoaça-se de cor-de-rosa e azul para se manifestar contra a polêmica instaurada pela ministra Damares, dizendo que todos têm a liberdade de ser quem são e que os gêneros são muito mais do que cores. Uma resistência embalada com doce voz contra os gritos intolerantes.

Uma presença política no mundo e uma consciência registradas na cultura brasileira desde, pelo menos, 1997, quando essa maravilhosa foi parar nas telas dos cinemas. “O meu trabalho artístico mais bacana foi um longa de Luiz Fernando Verissimo, ‘Ed Mort’ onde faço a Dayse, uma personagem misteriosa que revela no final que é trans”, resgata orgulhosa.

Fantasia

Atualmente Alessandra mora no Rio de Janeiro e faz eventos onde mostra toda sua beleza e talento – sendo diva também da comunidade que integra. “Sou muito feminina desde criança, comecei a me transformar aos 13 anos em São Paulo, onde vivi por muitos anos”, conta.

Sou muito feminina desde criança, comecei a me transformar aos 13 anos

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Em novembro, a cantora se apresenta na São Paulo que a viu se tornar essa mulher maravilhosa que ela é hoje. Quem for ao concurso Miss Brasil Transex 2019 poderá ouvir de perto a voz da liberdade de Alessandra.

Além disso, o futuro lhe reserva um show onde ela quer cantar todas as divas da música e muitos mais clipes, sempre com muita fantasia envolvida. “Gosto muito de personagens da Disney, tanto fadas como feiticeiras.” Para ver mais do trabalho dela vale seguir no Instagram @alexandralirics.