Educadores do Paraná realizam seminário para discutir fim da LGBTfobia nas escolas
Os desafios e possibilidades para a construção de uma escola antirracista, feminista e inclusiva foram temas de debate e reflexão na manhã de sábado (30) na sede da APP-Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná, em Curitiba. A programação integra o Seminário Estadual por uma Escola sem Machismo, sem LGBTQIA+Fobia e Antirracista, que reúne mais de 200 educadores(as) de todo o estado para discutir e elaborar estratégias de enfrentamento às desigualdades desde o ambiente escolar.
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O dia começou com uma intervenção cultural da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), com batucada e apresentação do histórico do movimento pela voz da secretária da Mulher Trabalhadora da APP-Sindicato, Taís Adams. “O feminismo não é apenas sobre os direitos das mulheres. Quando lutamos por uma sociedade igualitária, lutamos por uma sociedade melhor para todos(as). A marcha é um movimento de mulheres trabalhadoras que nasceu em tempos de precarização. Combater o machismo é enfrentar a miséria, o desemprego e a desigualdade”, explicou.
Na sequência, Taís e Celina Wotcoski, secretária de Igualdade Racial e Combate ao Racismo, conduziram a mesa do dia, com a presença da secretária nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados do Ministério das Mulheres, Rosane Silva, e Luana Tolentino, professora, mestre em Educação pela UFOP e doutoranda pela UFMG. Rosane abordou os desafios do período de reconstrução de políticas para as mulheres no governo federal, apontando para a centralidade do debate sobre a divisão sexual do trabalho.
“Precisamos falar cada vez mais sobre o trabalho doméstico, o trabalho intermitente, o trabalho não remunerado. Cada uma de vocês, para estar aqui, teve que organizar alguma coisa em casa para manter o lar funcionando. Seja a limpeza, a comida ou os filhos. As mulheres são a maioria no trabalho precarizado e ainda têm a jornada extra em casa”, afirmou. Daí a importância, explica Rosane, de iniciativas como a lei da igualdade salarial entre homens e mulheres, sancionada pelo presidente Lula em julho.
O feminismo não é apenas sobre os direitos das mulheres.
“Os dados demonstram que as mulheres estão exaustas. Porque a gente trabalha o tempo todo. Não é porque existe uma lei que o machismo que estrutura o mercado de trabalho vai desaparecer. Mas reconhecer a desigualdade e tornar ilegal a sua reprodução é um avanço”, disse a secretária nacional.
Como o machismo, o racismo começa, mas não termina na escola. “Nós fomos educados para o racismo. Não só na escola. Na vida, na televisão, no trabalho, nos sindicatos. Uma educação que cria uma hierarquia. Educados pelo mito da democracia racial. Fomos ensinados a achar que não existe racismo neste país. Que racistas são os outros”, afirmou Luana Tolentino.
“O ex-vice presidente do Brasil disse que não existe racismo no Brasil. Muitos de nós vamos passar a vida inteira sem sermos atendidos por um único médico negro e nós não questionamos, não refletimos. É normalizado”, continuou Luana, que apontou par a necessidade de defender a escolha de uma mulher negra para o STF.
As mulheres são a maioria no trabalho precarizado e ainda têm a jornada extra em casa.
“Temos que nos mobilizar. É riscar no chão que estamos tentando construir um novo pacto civilizatório. Uma instituição que tem mais de 130 anos e nunca teve uma mulher negra. É uma vergonha e não podemos aceitar que essa luta seja só de negros e de negras”, concluiu.
Celina Wotcoski reforçou o argumento. “Nós somos sobreviventes. Nós sobrevivemos ao racismo. Tenho 60 anos e quando ouço relatos de racismo na escola, parece que pouca coisa mudou desde os meus tempos de estudante. Mas está mudando pela luta de cada um de nós. E nós não vamos parar até que toda escola pública seja um espaço antirracista”.