Dia da Visibilidade Trans: Ygor é um homem trans com uma história cheia de vida
Por Artur Vieira*
Desde o ano de 2004, foi escolhido o dia 29 de Janeiro para dar mais visibilidade, conscientização e resistência à população transexual e travesti dentro do movimento LGBT. Data de extrema importância entre tantos cotidianos e relatos desafiadores do que é nascer e viver no País que mais mata a população LGBT+.
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Uma história como a de Ygor Bezerra, nordestino e homem trans, é uma daquelas narrativas que merecem ser celebradas. O jovem estudante de Farmácia, de 31 anos, que atualmente mora em Canela/RS, tem uma trajetória pessoal de aceitação e acolhimento familiar digna de um conto de fadas.
Diferente de muitos outros LGBTs que assim como Ygor também nasceram em um lar cristão evangélico, o jovem rapaz não precisou se equilibrar numa corda bamba ao assumir sua identidade de gênero para a família. Sem muito alarde e num ambiente de total acolhimento, seus pais, suas irmãs e suas primas estiveram lado a lado com ele em todas as etapas que passou ao dar início a sua transição.
“Eu sei que a minha história infelizmente é algo raro de se ouvir, mas estou aqui para dizer que é possível SIM; uma família que te encoraja e dá todo suporte para você ser quem você é!”, comemora.
É perceptível toda diferença que essa acolhida familiar de forma tão positiva impacta a vida de Ygor Bezerra, que há 4 anos encarou de bom grado o desafio de mudar completamente sua vida e desbravou recomeçar em terras no Sul do nosso Brasil, onde hoje exalta com bastante alegria e satisfação uma carreira sólida como auxiliar de farmácia em um conceituado hospital.
Outro ponto positivo que o tem ajudado muito e que nunca o permitiu passar por nenhuma situação constrangedora ou preconceituosa é a Carteira Social: “graças a ela eu nunca passei por nenhuma situação embaraçosa, inclusive nas várias viagens que fiz. Como é aceita em todo território nacional, me ajudou muito! Além de resolver bastante a nossa vida”, comenta.
A carteira social é um novo documento que permite o reconhecimento de transexuais e travestis pelo nome com o qual se identificam. É um direito e em cada Estado são realizados frequentemente mutirões onde as pessoas interessadas podem se cadastrar para tirar a documentação de forma gratuita.
Sei bem que a história do Ygor é uma raridade de se ler, mas precisa ser divulgada e compartilhada. Principalmente em meio a tantos noticiários tristes e violentos que rodeiam pessoas trans e travestis. A leitura desse relato familiar de aceitação e acolhimento é um desejo esperançoso que se torne cada vez mais costumeiro em nosso País.
Que muitos outros homens trans e mulheres trans possam conquistar seu espaço, sua profissão e principalmente seu direito de simplesmente existir. Seguimos na torcida e sendo resistência.
*Artur Vieira é um cristão, gay e jornalista que trabalha com o público LGBT desde 2013 na internet com o perfil “De Volta ao Reino”.