DO GOSPEL AO POP

Lucas Borba prepara para o dia 7 de março o lançamento de mais um single

Gospel tem artistas que desafiam o fundamentalismo enquanto vê nomes migrarem para o Pop

Por Artur Vieira*

Não é só Priscilla Alcântara que causou arrepios em solos sagrados da igreja evangélica brasileira ao migrar completamente seu estilo musical do Gospel para o Pop. O mesmo aconteceu com o cantor Maikon, que trilhou durante 15 anos carreira no Gospel, só que em 2021 migrou de gênero musical.Ao contrário do que muitos pensam, Maikon não deixou sua fé de lado quando mudou para o Pop, assumindo não apenas um novo estilo musical, como também uma nova imagem – bem menos recatada e discreta do que no passado.

“Diferente do que pensam, eu não deixei de ser cristão, eu não estou com raiva de Deus”, afirma Maikon.

Fazendo um balanço de prós e contras, ele lembra que sofreu inicialmente com alguns haters, porém nada que tirasse sua paz mental. Com total segurança e tranquilidade, o cantor avalia que teve um total acolhimento do público e principalmente a aceitação dos jovens que se identificaram com seu novo estilo musical.

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Maikon não quer ser taxado como o “Maikon da igreja” ou o “Maikon do Pop”, apenas quer o reconhecimento de ser um artista humano que tem desenvolvido um trabalho musical com bastante seriedade e amor. Ele usa a música hoje para expor suas ideias, gerando identificação no público que o acompanha desde 2005.

Sobre seu visual, a mudança foi bastante brusca, já que antes usava trajes bastante tradicionais como terno, camisa e gravata. E hoje deu espaço para um corpo bem mais musculoso, com peitoral à mostra e looks bem mais casuais e despojados.

Em suas próprias redes sociais é fácil conferir essa repaginação, não apenas pelas fotos que ele compartilha, mas também pela sua rotina de treinos e a forma casual e despretensiosa que interage com seus seguidores. Se antes encontrávamos um rapaz sério e sistemático dentro de um terno engravatado, hoje é fácil perceber um Maikon leve e sorridente que não dá a menor bola para a opinião alheia.

E os projetos do cantor não pararam, ele tirou este ano de 2024 para se dedicar aos estudos e a composições, além de ser um momento de reflexão interna, já que desde 2007 não parou de lançar músicas. Como alguém que acompanha de perto Maikon desde o Gospel, posso facilmente dizer que encontrei um artista mais seguro e menos preocupado com julgamentos.

Notei também uma evolução não apenas vocal do cantor, como também na qualidade do material visual, que está bem superior. Acredito que o Pop deu a liberdade criativa que ele precisava. Ouso dizer, que agora sem amarras, Maikon não vai demorar para nos surpreender novamente e lançar, quem sabe, um louvor. Contrariando inclusive aqueles que vivem querendo colocar o artista numa caixinha.

VENTANIA

E por falar em pensamento fora da caixinha, o líder de serviço de streaming de música, Spotify, que só no ano passado ultrapassou 500 milhões de usuários ativos mensais, criou uma categoria com destaque para cantores Gospel LGBTQIAPN+. Uma das promessas desse segmento é Lucas Borba, artista da gravadora Ventania que superou vários obstáculos devido a sua orientação sexual e sua escolha de cantar louvores. Uma delas foi aos 19 anos, quando foi expulso da Igreja Batista e afastado de todos os seus cargos religiosos por puro preconceito dos líderes da igreja.

Hoje aos 28 anos, Lucas Borba prepara para o dia 7 de março o lançamento de mais um single, intitulado “Até o Fim”, e convidou o casal de cantores heterossexuais Douglas e Marcelle (também cantores de música gospel) para fazer o feat na nova canção.

Já deixando qualquer pastor fundamentalista de cabelo em pé com tamanha ousadia na parceria. Contrariando qualquer possibilidade dos tradicionais de querer abafar o seu talento, Borba celebra a diversidade e surpreende nesse novo trabalho com a junção de gays e héteros na mescla desse trio de vozes da sua nova música.

“Meu trabalho nasceu no intuito de reafirmar que há lugar para todas as pessoas da minha comunidade e quem me afirma isso é o amor de Deus, e não há ninguém que vai nos tirar desse lugar, aprovando as pessoas ou não”, declara Lucas Borba.

Vale ressaltar que esse single mantém a identidade do cantor no seu estilo rock e todo o processo de produção foi acompanhado de perto pelo próprio Lucas, que sempre trouxe como diferencial a qualidade na harmonia e nos arranjos. Essas habilidades estão no DNA do cantor.

Uma troca de confidências que Lucas me fez durante essa entrevista e que achei bastante positiva foi o caminho de aprendizado e evolução que teve ao fazer canções para o público LGBT. Antes tinha zero conhecimento sobre a causa trans e devido à amizade com o compositor John Rosa, homem trans, aprendeu e entendeu as vivências da comunidade através de um outro olhar.

CORAÇÃO DE LEÃO

E também outro artista que você precisa conhecer é Jean Leão e sua canção potente “Coração igual ao teu”. Ele também inova sempre com trabalhos autorais e prepara ainda para o primeiro semestre o lançamento de um feat com o cantor Arthur Bezerra.

Luciano Julio é outro nome que dominou a setlist da categoria gospel LTGBTQIAPN+ do Spotify com sua canção e clipe “Tua Glória”, gravados ao vivo em Brasília em uma superprodução. Fica o convite para você abrir seu aplicativo de música e prestigiar a categoria que está recheada de artistas que dão um show de qualidade musical e quebram as barreiras do preconceito religioso.

Vale a pena conferir!

*Artur Vieira é um cristão, gay e jornalista que trabalha com o público LGBT desde 2013 na internet com o perfil “De Volta ao Reino”.