Artista e jornalista Kylie Hickmann quer usar sua experiência para ajudar quem está em transição

A designer gráfica, artista e jornalista aquariana Kylie Hickmann sempre soube que dentro do corpo ainda masculino morava uma mulher, lá quando ainda trabalhava na área de Comunicação de uma grande estatal. Sabia também que faria a transição e assumiria a imagem que via dentro de si, mas foi cautelosa para evitar preconceitos e preferiu esperar se firmar no mercado para começar o processo.

Hoje diva do Carolina’s Bar, no centro de São Paulo, bairro onde também mora, ela arrasa em shows e usa sua experiência em comunicação para fazer também as relações públicas do local. Kylie leva não só brilho e glamour para a noite, mas garante que todo mundo se comunique e não se trumbique.

Uma comunicação que em breve ganhará o mundo da internet porque ela se prepara para estrear um canal no YouTube, uma comunicadora trans que vai usar a tranquilidade de quem passou pela transição para ajudar quem ainda atravessa essa estrada.

Kylie quer comunicar para quem está em transição

Conectada, conta na entrevista abaixo que o futuro está nas redes e não quer ser nem Hebe Camargo, nem diva do Jornal Nacional – quer ser ela mesma. Certíssima.

Fazendo tantas coisas ao mesmo tempo, você tem uma preferida? Mais jornalista, mais artista?

Sou uma comunicadora nata, está na minha essência. Não tenho exercido oficialmente as atividades como jornalista, mas faço relações públicas de um bar atualmente, então estou em contato direto com o público. Também me comunico através de vídeos de divulgação. Atualmente, também tenho tido muitas datas de show. Então, busco conciliar tudo.

Como você usa sua voz para ampliar a nossa voz? Por que você acha isso importante?

Hoje em dia, toda voz pode ser ouvida, porque temos as redes, os canais da web à nossa disposição. Ser uma comunicadora trans também tem grande valor, uma vez que ainda ocupamos poucos espaços. Mas a luta é sempre parte do processo, da militância… Acho que o maior desafio é representar uma classe que nunca tem sua voz ouvida.

Quais os planos futuros para a carreira? Podemos esperar você divando na bancada do Jornal Nacional? Ou você está mais para rainha Hebe?

Nem JN nem Hebe. O futuro está na Internet. Ainda estou rascunhando ideias para dar vida ao meu canal no YouTube Espero transmitir a minha verdade, talvez isso inspire outras pessoas como eu.

A transição é algo delicado, e pra mim demorou um pouquinho mais porque quis estudar e me colocar no mercado primeiro, para que meu talento fosse respeitado antes da imagem, do gênero.

Como você encarou a transição? Você sempre soube quem você realmente era?

A transição é algo delicado, e pra mim demorou um pouquinho mais porque quis estudar e me colocar no mercado primeiro, para que meu talento fosse respeitado antes da imagem, do gênero. Hoje, com a derrubada de alguns tabus e com os armários mais escancarados, é mais fácil fazer essa transição. Eu trabalhava de terno e gravata, na área de Comunicação de uma grande estatal na época. A maioria dos cargos gerenciais era ocupada por homens. Não era possível. Hoje, eu enfrentaria tudo de tailleur. Mas eu sempre soube que morava uma mulher dentro de mim, desde criança. Hoje, me olho no espelho e me reconheço, e isto não tem preço.

Kylie: maior desafio é representar uma classe que nunca tem sua voz ouvida

O que você poderia dizer para ajudar quem enfrente dificuldades neste processo?

Meu conselho para quem enfrenta dificuldades é, primeiro, enxergar quem você é, sem vendas, se aceitar… Procurar informação sobre tudo, com ajuda de profissionais especializados, seja para legitimar sua aceitação ou para acompanhar sua terapia hormonal. Viver uma mulher 24 horas por dia não é tarefa fácil, mas é perfeitamente possível. E ocupar o seu lugar a sociedade é um direito legítimo.

Instagram @kyliehickmann