François Ozon, Paris na década de 30, Isabelle Huppert e muito mais em “O Crime é Meu”

Por Eduardo de Assumpção*

“O Crime é Meu” (Mon Crime, França, 2023) Paris na década de 1930. Madeleine Verdier (Nadia Tereszkiewicz) e Pauline Mauléon (Rebecca Marder) não dividem apenas um apartamento. Elas também são melhores amigas, apoiando-se mutuamente sempre que podem.

Leia também:

“Solo” tem romance e família entrelaçados por uma paixão ardente demais

“A Filha do Pescador” chega aos cinemas com história nada paradisíaca

“Kika” é uma obra que caminha para um thriller banhado de vermelho e um kitsch inconfundível

E elas podem usar apoio, pois dificilmente estão progredindo em suas respectivas vidas. O amigo de Madeleine, André Bonnard (Édouard Sulpice), quer se casar com outra mulher para atender às demandas de seu pai (André Dussollier), um empresário muito rico.

A tentativa de Madeleine de se firmar como atriz é tão malsucedida quanto a carreira de Pauline como advogada. Quando um produtor é assassinado, que Madeleine tinha visto pouco antes, ela parece estar na corda bamba. Mas então ela decide se declarar culpada e usar o barulho da mídia para se tornar famosa.

O alegado ato de Madeleine é, portanto, incisivamente inflado numa forma de protesto contra a dominação masculina e a opressão feminina através de formulações que ela concebeu. O longa torna-se então um manifesto feminista.

Vinte e três anos depois de 8 Mulheres, François Ozon volta a desenvolver um mistério protagonizado por mulheres. Obviamente, a referência é ao mundo feminino que o diretor representou tão bem várias vezes. Tudo enriquecido por uma ironia particular que, embora use um tom cruel, não abre mão de uma espécie de inocência. Um recurso que torna a narrativa sutilmente sedutora.

A peça francesa, de 1934, “Mon Crime” já foi filmada duas vezes em Hollywood, e Ozon leva o texto para suas origens para criar uma obra com muito diálogo pintando um quadro de uma sociedade em que o aparato judicial e o teatro às vezes se fundem perfeitamente, mas em qualquer caso funcionam de acordo com os mesmos princípios.

Isabelle Huppert como a ex-estrela do cinema mudo Odette Chaumette, que anseia por um retorno, não sabe que não há como pará-la também fazem deste um filme exagerado e colorido.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib