“O Amor Não tem Sexo” é longa de Stephen Frears sobre o dramaturgo Joe Orton

Por Eduardo de Assumpção*

“O Amor Não tem Sexo” (Prick Up Your Ears, Reino Unido, 1987) O longa, de Stephen Frears, é sobre o dramaturgo Joe Orton (Gary Oldman) e principalmente sobre o relacionamento que ele teve com seu parceiro Kenneth Halliwell (Alfred Molina) e como sua carreira influenciou esse romance. Enquanto Orton se torna cada vez mais bem-sucedido, Halliwell permanece involuntariamente preso no papel de assistente pessoal. Essa desigualdade coloca a relação entre os dois no limite.

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Após o brutal assassinato de Orton, sua ex-agente (Vanessa Redgrave) conta a história de vida deste extraordinário escritor do ponto de vista dela e com a ajuda dos diários que ele deixou para trás. O roteiro de Alan Bennett baseia-se fortemente nos diários de Orton, eles próprios repletos de citações de Halliwell, entregando uma linha espirituosa após a outra sem nunca perder o controle da história humana.

Depois de “Minha Adorável Lavanderia”, de 1985, o filme confirmou o talento de Stephen Frears, uma grande revelação do cinema britânico nos anos 80. Se o diretor estava associado à descrição da classe trabalhadora de seu tempo, ou seja, da era Thatcher, aqui ele abandona esse meio para pintar um universo mais burguês, embora o personagem de Orton venha do proletariado. O coração da história mergulha nos anos 50 e 60, décadas de transição em termos morais, mas que começou com uma rigidez de convenções sociais que não se encaixava bem com o estilo de vida libertário de dois homens.

Como acontece com todas as grandes tragédias dramáticas, sua potência não vem do horror de seu final, mas da inevitabilidade desse final. A incapacidade de Joe de perceber plenamente a desintegração emocional de seu parceiro Kenneth Halliwell, juntamente com a crueldade acidental do egoísmo que fez Halliwell se apaixonar por ele em primeiro lugar, impulsiona o par em uma espiral em direção à destruição.

A elegância da fotografia, o cuidado tomado na reconstrução da época, Gary Oldman, Alfred Molina e Vanessa Redgrave lideram o caminho para fazer de “O Amor Não Tem Sexo”, um verdadeiro filme manifesto pela igualdade de direitos.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib