Na semana do Dia Nacional da Visibilidade Trans, contamos a trajetória da pluralidade que é Melissa Azuaga
Por Artur Vieira*
Nascida em Campo Grande/MS, a jovem miss de 26 anos e de 1.82 altura, vive hoje a plenitude e a estabilidade de uma vida tranquila e harmônica em todos os aspectos: físico, emocional, social e espiritual. Algo bem diferente do que viveu no passado, quando enfrentou momentos desafiadores e turbulentos. Melissa Azuaga foi expulsa de casa muito cedo, aos 13 anos, quando assumiu para sua mãe a sua sexualidade e teve que fazer uma escolha: viver sua verdade ou aceitar as condições impostas de uma vida “dentro do armário”, algo que em nenhum momento foi aceito por ela.
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Sem saber para onde ir, foi acolhida por uma amiga mulher trans e mais madura: Laryssa Hoffmann, que a orientou, deu abrigo e a incentivou a seguir os melhores caminhos longe de problemas. Nesse momento da sua vida, ainda lutava contra sua verdadeira identidade de gênero e se reconhecia apenas como um rapaz gay, mudança que aconteceu apenas alguns anos depois.
VIDA DE MISS
Para ela o início da transição foi bastante tranquilo, tomou os hormônios e seguiu o protocolo corretamente e hoje é uma beldade de mulher. Não apenas na sua aparência física, que chama a atenção de qualquer um devido a tanta beleza, mas também pela postura tão educada e graciosidade de gestos e português corretíssimo quando se comunica. Tudo isso, ela dá mérito às possibilidades que teve ao viajar e conhecer vários países e culturas (inclusive morando bastante tempo na Holanda), algo que a aprimorou e hoje tem como diferencial.
Em 2019, participou pela primeira vez do concurso Miss Trans Mato Grosso do Sul e ficou em quinto lugar, mas ela mesma reconhece que aquele não era seu momento e também não estava preparada para a coroa. Trabalhou isso, melhorou sua postura, seu desfilar, fez novas fotos e em 2023 foi coroada e abraçada pelo estado inteiro sem fazer muita campanha, foi eleita e consagrada de forma bastante natural.
MULHER DE FÉ E ORAÇÃO
E essa mulher sensata e sensível, que me concedeu uma entrevista de cinquenta minutos ao telefone, fez questão de reforçar o quanto é importante divulgar e reafirmar que existem espaços seguros para pessoas trans dentro da igreja evangélica brasileira. Hoje faz parte da Igreja Inclusiva Morada, também em Campo Grande/MS, e é uma das evangelistas mais promissoras do ministério.
Ela faz questão de dar destaque que toda sua trajetória até aqui só foi possível devido a sua fé e fortalecimento espiritual, algo extremamente necessário para o desenvolvimento humano e principalmente para pessoas da comunidade LGBT+, que sofrem tanto com a discriminação. Não só hoje, mas ela sempre foi aquela que tem uma palavra de esperança e fortalecimento tanto para pessoas próximas como para desconhecidos que vai encontrando ao longo do caminho.
NOVOS PROJETOS
E a garra e empenho dessa atleta de karatê (um dos esportes que mais ama e pratica desde muito nova) não ficaram apenas na sua participação no último concurso. Ela já faz planos para disputar o nacional Miss Beleza T Brasil e levar a tão almejada coroa, e talvez quem sabe trabalhar com publicidade. Ela atualmente está empreendendo, também no ramo da beleza, onde comercializa cabelos tanto para salões e profissionais da área como para clientes diretos.
Acompanhar e escrever sobre uma mulher sul-mato-grossense que representa não só a beleza e a inteligência da nossa Comunidade Queer, mas também a determinação e coragem de ser quem é; nessa semana do Dia Nacional da Visibilidade Trans é algo para se aplaudir de pé.
*Artur Vieira é um cristão, gay e jornalista que trabalha com o público LGBT desde 2013 na internet com o perfil @devoltaaoreino