Por Juju, a Gata*
Eu sempre fui a dona dessa casa. Rainha absoluta de todos os cômodos, linda e maravilhosa subindo por todos os móveis. Mas nem te conto que no domingo o Hélio me chega aqui, enquanto eu mal despertava da minha soneca dentro da gaveta de meias, me chegou aqui com a minha caixa de ir para o veterinário na mão.
Eu não entendi muito o movimento contrário de chegar com a caixa. Não era para ser eu entrando nela e saindo de casa? Por que ele estava chegando com a caixa? Não faz nem um mês que a Vavá e a Zilda me armaram aquela operação de guerra e conseguiram me capturar. Malvadas. Colocaram-me nessa caixa e lá fui eu ao veterinário. Vai ser legal, elas disseram.
Oh minha Nossa Senhora do Ronronar, é aí que começa todo o meu infortúnio, toda a minha desolação. Fui golpeada, arrasada, estou em prantos escrevendo este texto.
Não foi. Deram-me banho, cortaram minhas unhas e me aplicaram remédio para verme. Vermes, eu, imagina. Maravilhosa como sou é impossível ter vermes. Mas enfim, a tal da caixa e o Hélio entrando…
Colocou a caixa no chão e abriu a porta, jurando que eu ia entrar na boa para mais uma vez passar por tudo aquilo. Eles que se virem para me pegar. Mas eu sou meio curiosa, só um pouco, e fui ver o que tinha lá dentro. Foi meu desterro. Oh minha Nossa Senhora do Ronronar, é aí que começa todo o meu infortúnio, toda a minha desolação. Fui golpeada, arrasada, estou em prantos escrevendo este texto.
Dentro da já muitas vezes (até demais) citada caixa estava algo que me confundiu a cabeça, e olha que eu sou realmente muito inteligente. Qual não foi a minha surpresa quando me deparei, sempre em pose de ataque felino charmoso arrasando, me deparei com um clone meu. Vi outra de mim naquele meio de transporte que sempre me levou à tristeza de vacinas e banhos.
Um clone, porém, menor, não entendi logo de cara. Olhou-me direto nos olhos e disse que se chamava Elvira. Mas não sou eu? Eu sou Juju, do pomposo nome Jujuba. Como ousa meu clone se batizar à revelia? Não mando mais no mundo todo como sempre mandei? Que rebeldia é essa?
Como ousa meu clone se batizar à revelia? Não mando mais no mundo todo como sempre mandei? Que rebeldia é essa?
Antes de pensar em cortar-lhe a cabeça por desobediência, este pequeno ser revelou algo inesperado: um longo e negro rabo balançando. Uma diferença grande demais para não me causar impressão, e me fazer pensar que, oras, talvez aquela não fosse eu. Não eu, obviamente, mas outra eu, copiada, mas nunca igualada.
Ok então. Existe outra gata preta neste mundo. Até que ela me parece bonitinha. Afinal, preto é clássico e estamos sempre bem-vestidas. Vamos ver como será…
*Juju, a Gata é uma coisa fofa peluda que está tentando se adaptar a conviver com outra gata como ela.
Nayte
04/10/2019 13:30
Adorei, neste dia de São Francisco, ler este texto. Parabéns Hélio.
Yerthaal
14/10/2019 15:33
😺❤