DJ Malka une a música que ama com a coragem de resistir para se expressar e pedir igualdade
Antes de qualquer coisa, já dê o play neste set maravilhoso que está no vídeo! Deu? Então vem conhecer essa história:
O poder da música e a coragem de ser quem realmente se é fizeram com que a DJ Malka pudesse orgulhosamente dizer que hoje vive seu sonho “de poder me expressar como a travesti e mulher que sou e ainda fazer uma música gótica que venha do meu coração”.
Essa libriana de 35 anos, com ascendente em Leão e Lua em Escorpião, há 15 anos vem fazendo música também como produtora musical e musicista para conectar pessoas, transformar seu entorno e pedir não apenas tolerância, mas igualdade, respeito, mudança. Ela é responsável pela produtora Travabizness, que empodera artistas cheias de talento.
A moradora de São Caetano do Sul, no ABC paulista, usa a música para resistir e existir em uma cidade onde, como conta ela, as pessoas foram nas últimas eleições votar vestidas com roupas militares. Nem precisa dizer em quem elas votaram, né? Ela conversa com a Ezatamag e conta como está aproveitando a quarentena para produzir mais músicas e espalhar o som que vem diretamente de sua alma para o mundo todo:
Como começou a carreira de DJ? Você sempre amou música?
Quando comecei como DJ, há 15 anos, eu já era musicista e produtora musical em início de carreira. A música sempre fez parte da minha vida, seja estudando, executando ou compondo.
A música na minha adolescência veio como uma forma de salvação, com ela eu entrava em mundos diferentes que eu mesma criava.
Como a música te ajudou na construção da sua autoestima? Como ela pode ajudar as pessoas?
Sempre fui uma pessoa diferente do restante, retraída, que tinha uma relação difícil com as dinâmicas escolares. A música na minha adolescência veio como uma forma de salvação, com ela eu entrava em mundos diferentes que eu mesma criava. Eu acredito que a música tem o poder de expressar as coisas que sentimos mais no fundo da alma e podemos com ela encontrar outras pessoas que sintam o mesmo. É algo mágico.
O que você quer transmitir com seus sets? Como você seleciona as músicas?
Eu gosto de pensar nos meus live sets como uma batalha da humanidade contra o sistema (o techno), por isso gosto de improvisar em cima dele. As músicas que seleciono vêm de muitos lugares. Uma boa parte delas eu mesma produzo, ou eu pego de amigas que também produzem, e quando não isso eu acabo por pesquisar bastante, é uma pesquisa de fruto de anos sentada no computador procurando tracks que façam sentido com minha vida e minha corpa.
Como tem sido sua rotina na quarentena? Como a música pode ajudar durante o isolamento?
Olha, eu comecei a produzir um EP que eu tinha ideia e agora já virou um disco, que além do techno passa por outras vertentes da música gótica, como o EBM, industrial, post punk e outras coisas mais. A música, como disse acima, é meio de contato com outras pessoas, mesmo que distantes, é uma maneira de não se sentir sozinha em meio ao silêncio.
Eu acredito que a música tem o poder de expressar as coisas que sentimos mais no fundo da alma.
Existe muita intolerância contra os LGBT na sua cidade?
Moro em São Caetano do Sul, no ABC paulista. Aqui é bem bizarro, no primeiro turno o Bolsonaro venceu por 68% e no segundo por 75%. Quando fui votar, pessoas com roupas militares estavam provocando. A orquestra que eu tocava no passado, tive que sair por transfobia, e quando decidi correr atrás dos meus direitos o município, através de sua procuradora, foi o mais transfóbico possível.
Como isso pode mudar?
Nesta cidade? Tirando todos privilégios que essas pessoas que moram aqui têm. Mas acho difícil acontecer, não é mesmo?
Há quanto tempo você começou a perceber que precisava se tornar a Malka para ser feliz?
É importante dizer que sempre fui Malka, só precisava deixar isso evidente e ter coragem para assumir todo esse papel social que é ser travesti. Por volta de 4 anos atrás eu já comecei a entender que não poderia mais fugir de mim mesma.
Quais os maiores desafios que você enfrentou? Como superar os obstáculos que podem surgir nessa busca?
Foi um processo longo e doloroso que demorou 31 anos para que eu tivesse coragem. Os desafios enfrentados no meu caso creio que foram pela transição mais velha, os questionamentos e as dúvidas da sociedade quando você assume isso mais velha. Creio que a melhor forma de superar os obstáculos é se conectar com pessoas parecidas contigo e que te entendam, é tudo sempre sobre conexões.
Ainda temos muito a fazer para conquistar uma sociedade mais tolerante?
Primeiro que tolerância não me adianta nada. Quero respeito, igualdade e proporcionalidade. E sim, ainda temos um longo caminho até as coisas melhorarem.
Com quem você amaria fazer uma parceria musical?
Com Trent Reznor, Aisha Devi ou Bjork. Mas é algo bem distante.
Qual seu sonho?
O que estou vivendo hoje. De poder me expressar como a travesti e mulher que sou e ainda fazer uma música gótica que venha do meu coração.
Instagram @malkajulieta.b