Nova música de Luê prova que é mais gostoso quando é lento e faz a gente evoluir como pessoa

A cantora paraense Luê acaba de lançar música nova e dá um recado importante ao lembrar que é “Mais Gostoso Lento”, onde traz novamente questões relacionadas ao sexo e à importância da libertação sexual feminina como ferramenta essencial de empoderamento. Desta vez, Luê traz a história de uma mulher que convida o ouvinte a entrar lentamente em seu mundo, no seu tempo.

Fruto de uma evolução de quem está se lapidando como pessoa todos os dias e apagando o machismo estrutural, a arte de Luê quer entreter sim, mas também formar, como ela chama, uma corrente de empoderamento feminino, uma puxando a mão da outra.

“Acho que mulheres inspiram mulheres. Eu me sinto inspirada por muitas artistas que admiro, só a existência delas já me motiva a continuar. Quando vejo uma mulher tocando um instrumento por exemplo, isso me motiva a tocar também (toco violino e rabeca) e sei que quando eu toco também posso servir de impulso para outras mulheres”, conta ela à Ezatamag na entrevista abaixo:

Me fala três coisas que você acha mais gostoso quando são lentas?

Eu não gosto de nada feito com afobação, acho que as coisas são mais bem apreciadas quando a gente toma tempo com elas. Mas gosto de cafuné devagar, nadar devagar é gostoso demais também, você já nadou devagar? Sentir a água passando pelo corpo enquanto você flutua? Eu amo essa sensação. E claro, beijo na boca e namorar (depende da situação, mas em geral devagar é mais legal).

Quais as referências que você buscou para fazer “Mais Gostoso Lento”?

Eu e o Mateo, produtor da música e parceiro na composição junto com o Sandro, pensamos em criar essa atmosfera dançante misturando elementos da música latina com beats eletrônicos, a gente se inspirou super na música da Rosalia e JBalvin.

Qual mensagem você quis passar com “Mais Gostoso Lento”? É um pedido de respeito às mulheres?

“Mais Gostoso Lento” fala de liberdade e empoderamento sexual feminino, assunto que eu comecei a abordar em “Virou o Zoínho (VICIEI)”, outra música que lancei anteriormente. Agora digo como quero e como gosto. Claro que é uma visão muito pessoal, uma experiência minha que sou uma mulher cis em relações heteronormativas, falo mais da minha vivência, mas deixo aqui a ressalva de que esse assunto é complexo e existem muitas camadas, corpos e sexualidades a serem cuidadas. Bem, não foi fácil chegar nesse lugar, eu tinha muita vergonha de mostrar para os meus parceiros as coisas que me davam prazer e acho que às vezes eu nem sabia direito o que eu gostava mesmo. Eu curtia tudo que envolvia o sexo, o toque, o corpo etc, mas sempre eram os caras que gozavam no final, passei muito tempo achando que aquilo era inalcançável para mim e demorei para perceber que várias dessas minhas travas eram fruto de repressões do machismo estrutural que fui acumulando com o tempo. Uma ferramenta muito importante para esse empoderamento sexual tem sido pra mim o autoconhecimento. Me tocar e mapear o meu corpo, respeitar e estimular meus desejos entendendo que o prazer é uma ferramenta de criatividade e poder tem sido essencial para virar essa chave. Só que desconstruir antigos padrões leva tempo né? É o trabalho de uma vida inteira. E penso também que prazer não é algo estático, ele se movimenta, estar atenta e aberta a possibilidades faz bem para o corpo e para mente.

Não foi fácil chegar nesse lugar, eu tinha muita vergonha de mostrar para os meus parceiros as coisas que me davam prazer.

Como você usa sua arte para dar voz às outras mulheres?

Acho que mulheres inspiram mulheres. Eu me sinto inspirada por muitas artistas que admiro, só a existência delas já me motiva a continuar. Quando vejo uma mulher tocando um instrumento por exemplo, isso me motiva a tocar também (toco violino e rabeca) e sei que quando eu toco também posso servir de impulso para outras mulheres. Funciona como uma corrente invisível, às vezes a gente nem sabe o quanto pode estar inspirando alguém.

Qual a importância de artistas fazerem isso no mundo atual?

Acredito que dar suporte para carreiras de outras mulheres e falar delas é uma estratégia legal pra gente conseguir alcançar mais espaços. Então deixo aqui algumas indicações de artistas maravilhosas: Josyara, Luisa e os Alquimistas, Mel, Juliana Strassacapa, Xênia França, Luiza Lian, tem a Millian Dolla também que é uma Dj incrível e a Ananindeusa dj paraense. Além de cantoras também tem instrumentistas como Helena Papini (baixista), Dominique Vieira (percussionista), Luna França (tecladista e cantora), Renata Beckmann (guitarrista paraense). Tem a Rafaela Prestes (engenheira de som) com quem trabalhei por alguns anos, maravilhosa! Beatriz Paiva (diretora de palco, tecnica de som e roadie). E algumas minas que são produtoras musicas/beatmakers: Malka Julieta (ainda é dj e toca vários instrumentos), Luana Flores, Badsista, Rafa Jazz, Raiani Sinara, Dj Flavia, Neila Kadhi, Bea (e também toca teclado e guitarra na banda paraense Guitarrada Das Manas), Desirée Marantes, Saskia, Ashira.

Você acredita que a sociedade tem olhado com mais respeito para as mulheres?

O que eu sinto é que uns anos pra cá o movimento feminista tomou muita força e nos trouxe impulso necessário pra lutar por direitos, espaços, profissões que nos eram negados. Mas tem muito território pra gente conquistar ainda.

Temos muito a fazer ainda para termos uma sociedade mais justa e tolerante?

A gente ainda tem muito que exercitar o olhar pra fora do nosso próprio umbigo, somos uma sociedade egoísta, a gente aprendeu a ser assim e como falei antes, leva tempo desconstruir antigos padrões.

Como tem sido sua rotina nesta época de quarentena?

Eu estou tentando manter a minha rotina de sempre, home-office já era minha realidade, então estou meio que acostumada com essa parte. Continuo seguindo com os trabalhos, acabo de lançar uma música nova e estou envolvida em outros projetos que devo lançar ainda este ano. Eu e Mateo, meu parceiro, montamos um estúdio em casa e estamos fazendo vários sons juntos. Além disso, estou aproveitando também pra mergulhar no processo criativo do meu próximo disco, que ainda é uma ideia embrionária, mas que já me dá um frio na barriga gostoso. Estou no processo de colher informações sobre o que será esse trabalho pra então compartilhá-las. No mais estou maratonando várias séries e ouvindo discos que estava pra ouvir há um tempo. Ah, e também tenho chamadas de vídeo em grupo com meus amigos pra aliviar a saudade.

A gente ainda tem muito que exercitar o olhar pra fora do nosso próprio umbigo, somos uma sociedade egoísta, a gente aprendeu a ser assim.

Qual o papel do artista em geral nesta quarentena? É hora de continuar fazendo arte?

Acho que essa situação que estamos vivendo agora é algo novo pra todos, a gente ainda não está sabendo muito bem como lidar. Penso sim que a arte sempre será salvadora e defendo que ela continue, mas acho que o “papel do artista” me dá uma sensação de obrigatoriedade que pode ser perigosa porque nem todo mundo está conseguindo ser produtivo, ou fazendo música e lançando clipes sabe? E está tudo bem, um dia de cada vez. Cada um está fazendo o que pode para se manter equilibrado e isso é o mais importante agora você sendo artista ou não.

Com quem você sonha em fazer uma parceria?

Depende da fase que eu estou. Agora seria Sevdaliza e JBalvin. Um não tem nada a ver com o outro, mas amo a música dos dois.

Qual seu sonho?

Viver da minha arte no Brasil.

Instagram @luemusica