10 obras essenciais para comemorar o Dia Internacional do Livro
Eu não poderia deixar passar a oportunidade de comemorar hoje o Dia Internacional do Livro. Eu sempre adorei ler livros e revistas, sou daqueles antigos que não deixa por nada a materialidade de uma capa bem feita de uma obra pesando em minhas mãos. Sentir o cheiro do papel. Me enfiar em sebos empoeirados e gastar menos de R$ 100 em sete, oito livros maravilhosos.
Abaixo uma lista dos meus preferidos, mas confesso que vários ficaram de fora. Machado de Assis? Não consigo escolher o melhor (mas acho um saco “Memorial de Aires”). É uma lista minha, simples, não é um ranking nem nada do tipo. Fica de indicação para quem está em casa reclamando que não tem o que fazer na quarentena.
Todos eles estão disponíveis online para quem é mais conectado do que eu.
“Jane Eyre” – Charlotte Brontë
Charlotte é irmã de Emily, a melosa lá do morro dos ventos uivantes. Diferente da irmã, é mais realista (ao máximo que a época permitia) e passa longe da tara por casamentos de sua amiga Jane Austen. A protagonista incorpora questões universais complexas como até que ponto alguém aguenta o peso dos socos da vida sem perder a si mesmo? Um enredo novelesco, mas interessante porque toma caminhos ousados antes de entregar ao leitor o que ele quer. Danada essa Charlotte.
“As Aventuras do Sr. Pickwick” – Charles Dickens
Ironia, ironia e ironia. Este poderia ser o resumo do livro. O personagem que dá nome à obra é um inglês rico, poderoso e cheio de meios para realizar o que deseja – mas Dickens pinta com pinceladas bem sutis toda a burrice que faz com que ele seja enganado a cada página. Tudo isso colocando Sr. Pickwick como um homem cheio de burocracias que atrasam sua vida, mesmo que ele nunca perceba isso.
“Elogio da Loucura” – Erasmo de Rotterdam
Quem melhor do que eu poderia me descrever? É a questão que abre um dos livros mais soco no estômago que eu já li. Erasmo vai revelando a loucura, ou isso que chamam de loucura, contida em cada pequeno gesto, cada mínimo passo, cada milimétrica atitude humana. Uma narrativa tão bem feita que faz a gente torcer para que a loucura, essa retratada no livro, tome conta do mundo. Quem não é um pouco louco?
“Diários de Adão e Eva” – Mark Twain
O que a Antropologia chama de Estranhamento é levado a sua potência máxima aqui. A capacidade de distanciar-se da própria realidade para analisá-la é esplêndida, exemplar e até mesmo divertida. Como adianta o título, Adão e Eva fazem cada um seu diário em tom crítico, quase irônico, de seus surgimentos aqui na Terra. Independente da religião, vale ler até mesmo como uma crítica, muito bem feita, por sinal, ao colocar o casal mais famoso do Ocidente em um cotidiano de questões mais do que humanas.
“Os Irmãos Karamázov” – Fiódor Dostoiévski
Não se assuste pelo tamanho do livro (ou livros, em edições duplas), não esmoreça contando o número de páginas. Vale cada uma delas. Minha edição tem 678 páginas todas são indispensáveis. Um dos maiores nomes da literatura mundial usa a relação entre um pai e seus três filhos para escancarar o que há de menos publicável em nós. A dica para não se perder com tantos nomes e tanta gente que entra e sai da história é fazer mesmo uma colinha com uma árvore genealógica.
“Casa de Pensão” – Aluísio Azevedo
O encontro de boa parte da humanidade, ou falta dela, do Rio de Janeiro do século XIX em uma única casa, uma pensão. As histórias se cruzam em ambições, golpes, ternura e amor, claro, formando um caldeirão de situações reveladoras de um tempo onde o casamento era um meio, a riqueza um fim e a esperteza um começo. Amâncio é o exemplo de que nem sempre vale a pena tentar pertencer a um mundo que não lhe faz sentido algum, não lhe satisfaz.
“Lucíola” – José de Alencar
Talvez a reunião de todos os adjetivos da língua portuguesa em um só lugar. Uma narrativa onde adjetiva-se em cascata para transparecer o fulgás das aparências, a fragilidade das convenções sociais e a enorme força dos desejos humanos. Lúcia protagoniza uma história quase escandalosa para a época em que foi escrita porque traz uma protagonista empoderada, uma palavra que pode até parecer atual, mas faz todo o sentido dentro dos domínios da Lúcia de Alencar.
“Livro do Desassossego” – Fernando Pessoa
Pode ser usado como livro de cabeceira tipo aquele religioso “Minutos de Sabedoria”. Abra uma página e leia um trecho, sempre dá certo porque Pessoa mergulha no subjetivismo do subjetivo da subjetivamente subjetiva alma humana. Pleonasmo dizer que é uma das obras mais humanas e uma das maiores obras humanas na minha singela opinião. Para ler e descobrir que uma flor é só uma flor. Para ter certeza de que somos nós os nossos maiores criadores de problemas.
“Bom-Crioulo” – Adolfo Caminha
Eu fico imaginando os gritos histéricos da sociedade brasileira lendo este livro. O amor entre dois homens, para começar, fica ainda mais complexo com a questão racial de um Rio de Janeiro que, até hoje, não libertou os escravos totalmente. O burburinho de um amor verdadeiro, porém escandaloso. A inveja de quem gostaria de ser este casal. Tudo isso misturado a um clima navy e com descrições muito bem feitas, quase eróticas. Chora, sociedade.
“A Casa dos Budas Ditosos” – João Ubaldo Ribeiro
Outro soco no estômago, mas agora no século XX. Maravilhosamente divertido é o texto que traz as aventuras de uma prostituta que, trabalhando com o que há de mais libertamente humano, o sexo, conhece nossas almas como poucas pessoas. Tom de sátira, narrativa leve e gostosa e aquele sorriso no rosto ao ler os “causos”, se identificar, identificar um amigo ou um ex, enfim, ver o que é humano, o que existe fora do casal de propaganda de margarina.