MR DJ!

Promessa da cena de Porto Velho, DJ Luan Linhares sonha com carreira profissional e mais oportunidades para pessoas trans

No dia 21 de julho, ontem, o DJ Luan Linhares completou dois anos do início de sua transição. Ele também está dando os primeiros passos na carreira de DJ, além de estudar Zootecnia e trabalhar com Engenharia Civil. Toda uma construção que promete dar um ótimo resultado futuro – e Ezatamag está aqui justamente para divulgar essa promessa das picapes.

Canceriano de 31 anos, Luan mora em Porto Velho, capital de Rondônia, uma cidade onde ser LGBT ainda é um desafio árduo. Mas ele é consciente e sabe como isso pode ser transformado. “A oportunidade de se enquadrar no mercado de trabalho é muito escassa. Olho para o lado, principalmente para as pessoas trans que não conseguem trabalho com muita facilidade, e eu também já passei por isso”, conta à Ezatamag.

Estudando, trabalhando e sonhando com a futura carreira de DJ, o moço não tem parado durante a quarentena, o que deixa a cabeça ativa o bastante para elaborar novo projeto ao lado do irmão, com colaboração de gente de vários Estados. Ao mesmo tempo, se sente realizado com cada pequeno novo detalhe surgido de sua transição.

Luan ouviu a música do próprio coração e agora quer espalhar essa alegria por todo o Brasil – e a gente torce que pelo mundo também. Anote este nome e saiba mais sobre ele na entrevista a seguir:

Como é a realidade LGBT em Porto Velho? O que pode ser feito?

Por aqui, como em todo Brasil, acredito sim que há muito o que ser feito pela classe LGBT, incluindo principalmente a área relacionada ao trabalho. A oportunidade de se enquadrar no mercado de trabalho é muito escassa, não é o que ocorre comigo, até porque já tenho uma carga, mas olho para o lado, principalmente para as pessoas trans que não conseguem trabalho com muita facilidade, e eu também já passei por isso. Mas depois de anos você vai se aprimorando e criando conhecimento caso tenha oportunidade, aí o mercado de trabalho fica mais fácil porque as pessoas passam a te conhecer. Porém, como eu disse, a realidade de quem está entrando no mercado de trabalho hoje é outra! E o que pode ser feito em relação a isso? Eu sempre achei que se trabalhasse com alguma forma de programa relacionado à inclusão da classe LGBT no mercado de trabalho, em parceria com as micro e pequenas empresas, seria muito interessante. Mas alguém para implantar algo do tipo precisar ser um político e ter voz na sociedade.

Mas sempre me achei uma menina estranha kkkk, e com uns 22 anos tentava me encaixar, mas nada ia. Meu Deus, era horrível tentar se enquadrar e não ter em mente o que fazer pra solucionar aquele vazio que sempre estava ali.

Quando você percebeu que o Luan estava dentro de você e precisava se mostrar para o mundo?

Eu percebi desde de criança. Na verdade não me encaixava com o padrão menininha kkk porém, como não se tinha muito conhecimento naquela época… Mas sempre me achei uma menina estranha kkkk, e com uns 22 anos tentava me encaixar, mas nada ia. Meu Deus, era horrível tentar se enquadrar e não ter em mente o que fazer pra solucionar aquele vazio que sempre estava ali. O Luan começou a sair aos 27, quando comecei a conhecer mais sobre as pessoas trans, para mim isso era impossível. Comecei a ver as transformações e pensei “meu Deus não acredito que posso”, e eu disse “sim eu posso”. Com 29 anos comecei a transição, dia 21 de julho fez 2 anos. E me sinto a cada dia mais feliz comigo mesmo, cada pequeno detalhe que surge é uma felicidade enorme dentro de mim, você não tem noção.

Quais desafios você enfrentou e ainda enfrenta e como encarou/encara? O que você pode dizer para outros meninos trans que estão neste caminho?

O pior desafio é tentar se enquadrar no padrão. Querendo ou não, a maioria de nós sente essa necessidade de se tornar passável, como todos falam, até por causa do conhecimento e ser tratado no masculino como queremos. Porque não tem coisa pior do que você ser tratado no feminino. Para os outros eu só falo: velho, é isso mesmo que você sente aí dentro de você? Busque isso, busque alcançar a sua felicidade, você veio ao mundo para viver a sua vida e não viver a vida do outro. Busque realizar suas metas seu objetivos e seguir os desejos do seu coração e ser quem você realmente é de verdade.

Você sempre gostou de música? Como foi o percurso até se tornar DJ?

Eu sempre gostei de música, desde que me entendo por gente venho tentando maneiras de me enquadrar nessa área. Já tentei tocar violão, eu até consegui aprender umas 3 músicas kkkk já tentei cantar, eu adorava os karaokês da vida. Antes da transição eu tinha até uma voz boa kkk. Eu sempre gostei de selecionar as músicas para festinhas entre amigos. Daí surgiu a vontade de iniciar como DJ, já venho fazendo há 3 anos sets pra uma festa que meu amigo realiza todo ano. Não é nada grande, mas é um começo. E como eu disse, estou começando.

Quais suas principais referências musicais?

Gente, sobre referências musicais, são várias, afinal eu sempre adorei música e sou bem eclético, Martin Garrix, Avicci, David Gueta, Diplo, Calvin Harris, Whitney Houston, Madona, Beyoncé, Lady Gaga, Glória Groove, adoro a Pablo, ultimamente o lado brega funk está me puxando mais, mas nas minhas seleções sempre tem esses nomes! Espero estudar o máximo possível o meu trabalho como DJ para ter mais segurança e agradar ao público de uma forma que ele vá ao delírio, que sinta aquela emoção de estar em uma balada ouvindo o meu set e dizer “Caracas véi, essa festa é top. O DJ fez todo mundo dançar”. Quero ser reconhecido pelo meu trabalho, quero ter segurança de levar um bom som, uma boa seleção, um bom remix e fazer a galera se soltar.

Desde que me entendo por gente fui conquistando o que eu queria aos poucos e isso é gratificante, me orgulho disso. Saí de casa muito cedo estou aí na caminhada ainda, mas não desisto, eu só quero é ser feliz.

Me conta sobre esse projeto com seu irmão e amigos! O que vem de bom por aí?

O projeto é a Kollodyno Explode. Tenho um irmão que compõe e canta, e como eu também sempre fui apaixonado pela música, sempre o incentivei, neste ano resolvemos dar um pontapé, mesmo na quarentena. Ele publicou sua primeira música e o grupo foi criado depois de termos contatos com outras pessoas que também querem trabalhar na área da música, mas não tinham dado um pontapé inicial. O projeto é de início uma ajuda mútua entre todos, pra que todos cresçam com o seu trabalho, cada um na sua área. Temos no nosso grupo um DJ produtor musical de São Paulo, um fotógrafo da área da publicidade que mora no interior do Estado, uma pessoa que vai ficar mais responsável pela área de análise de mercado, que também tem um ouvido aguçado para o que tá bombando. Tem um outro MC lá do Rio Grande do Sul e temos mais um parceiro do nosso meio LGBT que mora no Acre (que está quase lançando a próxima música junto com meu irmão).

Como você está mantendo a cabeça fresca na quarentena?

A querentena para mim é em partes. Eu estou trabalhando normalmente, eu não parei, eu trabalho na área da Engenharia Civil e obra não para, licitações não param kkkk. Continuei tendo aula também, eu faço Zootecnia, acabei de fechar o 5°semestre. Então a correria por aqui foi quase que a mesma.

O que mais você quer fazer quando tudo isso passar?

Quando tudo isso passar espero ser chamado para o meu primeiro show de verdade como profissional! Quero muito a carreira de DJ!

Agora me conta qual é seu maior sonho!

Acredito que não tenho um maior sonho, desde que me entendo por gente fui conquistando o que eu queria aos poucos e isso é gratificante, me orgulho disso. Saí de casa muito cedo estou aí na caminhada ainda, mas não desisto, eu só quero é ser feliz, construir uma família, ter uma base para os meus filhos no futuro. Tenho ambições, todo mundo tem, a luta diária é em busca de realizar isso também né. Enfim, é isso, quero ser realizado com as minhas escolhas e feliz comigo mesmo e com as pessoas que amo!

Instagram @djluanlinharestrans