Vinicius Alves se maquiou pela primeira vez após ser agredido na escola e agora quer empoderar todes contra o preconceito
Estudante de Comunicação Social e maquiador, Vinicius Alves, 19 anos, driblou o calor típico de Cuiabá quando precisou se maquiar pela primeira vez. Uma necessidade trazida por uma agressão homofóbica na escola, mas que serviu de impulso para ele achar sua força ao passar no rosto pela primeira vez a base de sua mãe.
Hoje em dia Vinicius quer espalhar esse empoderamento da maquiagem para todes e tem utilizado as redes sociais para chegar a todos os lugares. Onde tiver uma pessoa precisando levantar a autoestima com automaquiagem ele pode estar lá, dando dicas valiosas em seu perfil @viniciusalvesh – onde dá um curso grátis!
Virginiano orgulhoso do signo, aprendeu a lidar com as críticas e tira delas uma importante lição que divide abaixo, em um relato sincero à Ezatamag sobre como foi percorrer todo esse caminhar cheio de cores e muita autoestima. Com a palavra, Vinicius:
“Eu moro em Cuiabá, essa cidade calorosa, quente, de muito amor, muito hospitaleira. Eu me sinto até muito privilegiado, não posso reclamar porque não sofro muito preconceito. Porém existe, a gente não pode fechar os olhos e dizer que não existe. Eu sempre tenho muito problema porque Cuiabá é uma cidade que tem muitos bolsominions, tenho problemas com eles do ponto de vista político. Sempre tem um xingamento ou outro, mas me sinto privilegiado, não sou muito atacado quanto outras pessoas.
Em Cuiabá ainda é assim porque é uma cidade muito religiosa, tem muitos gays que ainda não se assumiram. Isso se dá pela religiosidade instaurada na cidade. Pelo menos é isso o que eu acredito, é o meu ponto de vista com relação ao preconceito em Cuiabá.
Mas eu acredito muito que a internet hoje em dia ajuda muitas pessoas a se destacarem, até mesmo pessoas do interior que têm um talento tremendo. No meu caso foi a mesma coisa, mesmo eu morando em uma capital, me colocar no mercado, me posicionar, é muito caro. A internet me deu uma visibilidade que somente com muito dinheiro eu conseguiria fazer fora dela.
A maquiagem entrou na minha vida de maneira bem explosiva, veio com tudo. De uma maneira um pouco triste. Foi no Ensino Médio, quando eu fui agredido na escola. Um menino agrediu meu rosto e foi a primeira vez que eu usei base na minha vida, fui olhando na internet, passando no rosto uma base que eu peguei da minha mãe. Na época eu sofria muito de acne.
Passei a base no rosto todo e quando eu vi o resultado que a maquiagem tinha trazido eu me empoderei de uma maneira que eu poderia ter um peito de aço, um coração valente. Eu tinha a sensação de que ninguém podia comigo naquele dia. Foi aí que eu vi a importância da maquiagem na vida de alguém.
Quando eu decidi realmente fazer maquiagem foi quando que decidi fazer em mim. Passei a aprimorar, passava base, depois comecei a fazer a sobrancelha. Quando eu vi, eu fui chamado para trabalhar em uma das franquias da Alice Salazar aqui em Cuiabá. Foi quando eu literalmente me apaixonei: usei batom, cílios. Eu senti que comigo ninguém podia.
Era eu estar maquiado que eu conseguia bater minhas metas todos os dias e ajudar as outras vendedoras, me dava força. Foi quando eu decidi tomar esse sentimento para a minha vida. Eu posso, eu consigo, eu vou, eu faço, eu aconteço. É esse sentimento que eu queria ter diariamente.
Quando eu pensei em fazer maquiagem eu não queria maquiar mulheres, eu queria ensinar mulheres a se maquiarem. Eu fiz curso de automaquiagem. Na época eu não tinha dinheiro, consegui fazendo uma parceria. Porque eu estudo Comunicação Social tem três anos, termino no ano que vem, e fechei uma parceria com a maquiadora. Eu fiz um Instagram para ela e ela me deu um curso de automaquiagem. Foi ali que eu literalmente comecei. Fiz outros cursos também.
Eu tinha a sensação de que ninguém podia comigo naquele dia. Foi aí que eu vi a importância da maquiagem na vida de alguém.
Eu acredito que maquiagem é uma ferramenta, é um sinônimo de empoderamento não feminino, não masculino, mas empoderamento humano. Ela empodera e pondera a pessoa que utiliza ela, dá uma força de vencer, de lutar. Ela levanta a autoestima e a autoestima faz isso com as pessoas.
Mas até hoje eu recebo críticas. Mas eu acredito que crítica, preconceito, linchamento, cancelamento, sempre vão existir. A gente tem que utilizar isso a nosso favor, é isso que eu faço. O meu trabalho é superior à toda e qualquer crítica, eu faço meu trabalho, meu papel, se quiserem me criticar, podem me criticar. Mas eu vou continuar aqui, fazendo meu trabalho da melhor maneira possível, no melhor formato possível, sempre querendo entregar mais e mais e mais.
Trabalhar e fazer sucesso é a melhor forma de lidar com as críticas, utilizar elas a seu favor. Tirar proveito quando querem te prejudicar. Porque eu acho que existem diferentes tipos de crítica. Tem umas que são de fisionomia, de trabalho, de jeito de ser e eu recebo muita crítica sobre o meu trabalho. As pessoas dizem que o meu trabalho como maquiador não é muito bom, sempre tem muita crítica, mas eu não me importo.
Quando eu vi o resultado que a maquiagem tinha trazido eu me empoderei de uma maneira que eu poderia ter um peito de aço, um coração valente.
No início sempre falaram que eu não tinha talento e hoje eu estou com mais de 20 mil seguidoras no Instagram, com uma linha de produtos prestes a ser lançada. O que eu posso pedir mais? Eu fiz o meu trabalho, eu faço o meu trabalho e é isso!”