5 filmes trans que você precisa assistir!
Por Leona Rodrigues*
Logo após o surgimento da personagem Ivana/Ivan, no folhetim A Forca do Querer, e do filme A Garota Dinamarquesa (2015), do diretor Tom Hooper, a mídia e o grande público voltaram os olhos para a questão transexual e reacenderam o debate sobre a representação da vida dessas mulheres e homens por pessoas que eram cisgêneras, ressuscitando o termo já conhecido como TRANSFAKE.
O termo transfake se refere à prática de atores cisgêneros (pessoas que se reconhecem no gênero de nascimento) interpretarem personagens trans e travestis (pessoas que não se identificam com o gênero de nascimento) e remete ao blackface.
Esta lista e esta coluna hoje pretendem, assim, exaltar trabalhos no campo audiovisual que foram protagonizados por pessoas trans. Sejam curtas-metragens, documentários ou filmes caseiros, a produção nacional e internacional acerca de nossas vidas é grande demais para caber em uma única coluna e especial demais para ser esquecida. Selecionei neste momento 5 filmes que pudessem tocar a todos e que trouxessem vidas que precisam ser lembradas e comemoradas através da sétima arte. Espero que gostem.
Tangerina – Tangerine 2015 (destaque)
Assim que sai da prisão, a prostituta transexual Sin-Dee (Kitana Kiki Rodriguez) descobre através de sua melhor amiga (Mya Taylor) que o namorado Chester (James Ransone) está saindo com outra pessoa, uma mulher cisgênero. Sin-Dee decide encontrar os dois e puni-los pela traição.
Filmado inteiramente com uma câmera de celular (na verdade, três aparelhos iPhones 5s), Tangerine, o filme queridinho das temporadas de premiação do cinema independente (eleita a melhor ficção de temática LGBT no último Festival do Rio), é um projeto arriscado do jovem realizador Sean Baker; um divertido conto de Natal às avessas.
Bixa Travesty – 2018
O corpo político de Linn da Quebrada, cantora transexual negra, é a força motriz desse documentário que captura a sua esfera pública e privada, ambas marcadas não só por sua presença de palco inusitada, mas também por sua incessante luta pela desconstrução de estereótipos de gênero, classe e raça.
O documentário aborda de forma única a trajetória de Linn e de como a desconstrução do corpo e do imaginário sobre o feminino e masculino é necessária nos dias atuais. Mais do que uma ode à Linn, o filme é um sopro de vida nas vidas das travestis. Pelas palavras da Linn:
“Muito prazer, sou a nova Eva, filha das travas, obra das trevas”
Uma Mulher Fantástica – Una Mujer Fantastica 2017
Marina (Daniela Vega) é uma garçonete transexual que passa boa parte dos seus dias buscando seu sustento. Seu verdadeiro sonho é ser uma cantora de sucesso e, para isso, canta durante a noite em diversos clubes de sua cidade. O problema é que, após a inesperada morte de Orlando (Francisco Reyes), seu namorado e maior companheiro, sua vida dá uma guinada total.
O filme é o retrato de uma das questões menos abordadas na sociedade: quem ama a trans? Daniela interpreta com maestria uma mulher que se vê desamparada, desacreditada, e ainda assim consegue transformar a solidão em fortaleza. A atriz mostra ao mundo que também nos relacionamos, há amor sim e de sobra para nós mulheres trans e travestis.
Indianara – 2019
Revolucionária por natureza, Indianarae Siqueira lidera um grupo de mulheres transgênero que luta pela própria sobrevivência em um lugar tomado por preconceito, intolerância e polarização. Desde disputas partidárias até o puro combate contra o governo opressor, a ativista de origens humildes passou por uma longa trajetória até se tornar ícone do movimento.
Indianarae é uma instituição, uma entidade, e o documentário aborda de forma humana e sensível toda a luta e toda a glória de uma das mais importantes figuras do movimento LGBTQIA+ atual. É criação de Indianarae o neologismo transvestigênere, mostrando o poder e a inteligência de uma mulher que representa a todes e que cumpre seu papel social além do esperado.
VALENTINA – 2020
Valentina, uma menina trans de 17 anos de idade, muda-se para uma pequena cidade mineira (Estrela do Sul) com sua mãe Márcia (40).
Com receio de ser intimidada na nova escola, a garota busca mais privacidade e tenta se matricular com seu novo nome. Para isso, ela precisa conseguir a assinatura do pai ausente, além de enfrentar o maior desafio da sua vida.
O filme é a estreia da youtuber e digital influencer Thiessa Woinbackk, que trabalha há anos na conscientização da vida de pessoas transgêneras e que consegue através da personagem-título ressuscitar questões como afetividade, família e igualdade. De forma sensível, o filme nos inspira a sermos melhores e buscarmos nossa felicidade através das ações simples da vida.
*Leona Rodrigues é trans-ativista, professora, criadora do canal Leona T e do projeto #nossahistoriatrans