“Nós viemos do fracasso”, dizem Linn da Quebrada e Jup do Bairro no Guia Negro Entrevista
As cantoras Linn da Quebrada e Jup do Bairro participam do Guia Negro Entrevista e dizem que vieram do fracasso, e que nunca buscaram o sucesso convencional de outras cantoras cisgênero ou iriam fracassar. “Nós elaboramos um caminho em que queríamos o fracasso”, diz Linn. Após parcerias de sucesso na área musical, as duas seguirão carreiras separadas.
“Nossa amizade vem de uma necessidade, a gente precisava ficar juntas”, ressalta Linn. Já Jup lembra que nenhum dos vieses do mercado fonográfico se preparou para o ingresso dos corpos delas, classificados pelas próprias como “sem juízo” e “marginal”. “Nossos corpos sem juízo, nossos corpos marginais têm uma alta tecnologia de adaptação ao seu tempo”, diz Jup. A cantora diz que nunca quis o pioneirismo ser a primeira trans do rap e indica o trabalho de outras artistas que têm se despontado na cena musical.
Nossos corpos sem juízo, nossos corpos marginais têm uma alta tecnologia de adaptação ao seu tempo, diz Jup
As cantoras ressaltam que elas precisam criar as próprias possibilidades. No campo religioso, Linn diz que alimenta suas incertezas de dúvidas e Jup classifica-se como uma ateia não praticante. Ambas incentivam que as pessoas visitem lugares periféricos e de cultura negra, mas dizem que não podemos só descarregar nossas energias nesses espaços sem dar algo em troca. “Você vai deixar lá uma semente para germinar ou você vai deixar sua culpa e levar nosso axé para casa?”, ressalta Jup.
Nossa amizade vem de uma necessidade, a gente precisava ficar juntas, ressalta Linn
Ambas respondem sobre o que é ser um corpo negro no mundo. “É ser parte de muitas histórias”, diz Linn e dão uma palhinha no final, mas antes lembram que “a favela não venceu, nem as pessoas trans” e que esse processo ainda está em curso e questionam: “Quem são esses negros que realmente importam?”.
Apresentado por Guilherme Soares Dias, o programa tem produção de Heitor Salatiel, charges de Felipe Carvalho, trilha de Boris Reine-Adelaide, designer de Iago Reis e direção de Rodrigo Portela. A quarta temporada do #guianegroentrevista é uma parceria da Terra Preta Produções e da Catraca Livre.