Ezatamag estreia nova coluna com Michelly Longo, trans, negra, nordestina e cheia de experiências para dividir
Olá! Eu sou a Michelly Longo, tenho 37 anos, negra (ou preta como preferirem dizer), baiana, moradora de Trancoso, município de Porto Seguro no extremo sul da Bahia, cozinheira de profissão, casada há quase seis anos com um homem cis de 24 anos também negro (pasmem).
No dia 8 de abril de 1983 nasceu essa pessoa que vos fala, na época diziam que era um menino (sabiam de nada, inocentes), ali começou a minha caminhada, sou de família circense e até os meus 2 anos mais ou menos vivi em um circo, literalmente, do qual meu saudoso avô era o dono. Meu pai conta que aos 2 anos eu já demonstrava feminilidade, quando entravam as garotas dançando rumba eu retirava a camiseta, colocava na cintura e subia no picadeiro, ali já estava escrito, porém as pessoas levam como “brincadeira de criança” e acham apenas engraçado.
Nunca desista de você, basta ir em busca dos seus objetivos sem abrir mão das oportunidades, sejam elas boas ou ruins, você só saberá se valerão a pena com o tempo.
Com uma infância e adolescência conturbada, cheia de incertezas e culpas, na época eu só enxergava erros e medos, afinal quem eu era? Eu não sabia dizer, pois eu não me encontrava, não me encaixava… Um dia meu pai me sentou na frente dele e me perguntou se eu era gay… Naquele momento eu disse que sim, pois era o que eu também entendia, não tinha tanta informação como hoje, nos abraçamos, choramos e ele me disse: Não importa você é meu filho…
Tirei ali uma parte do peso das minhas costas, mas ainda havia algo que me incomodava… Então pouco tempo depois comecei a tomar hormônios por conta própria (não recomendo, não façam isso), indicação de uma amiga na época e me veio um sopro de felicidade onde encontrei a parte que faltava.
Porém, como toda adolescente trans, dentro desse sonho se realizando começa um pesadelo, piadinhas, xingamentos, dentre tantas coisas que assolam a nós. Só quem é trans entende, né?
Na fase adulta já com o Ensino Médio completo, encarei várias dificuldades no mercado de trabalho e por um determinado tempo recorri à prostituição (pois é a única opção de inúmeras de nós). Não me envergonho, pois ali foi onde aprendi a me defender, mesmo sabendo e dizendo que um dia eu sairia dali e sai, através de um relacionamento abusivo de três anos (estou viva porque ainda não era a hora) que me destruía física e psicologicamente, mas me livrei disso também.
Um dia meu pai me sentou na frente dele e me perguntou se eu era gay… Naquele momento eu disse que sim, pois era o que eu também entendia, não tinha tanta informação como hoje.
Hoje sou cozinheira como já disse, mas já fui atendente de farmácia, camareira, monitora de empresa de segurança, me agarro ao emprego que aparece e ainda encontro muitas dificuldades. Ser trans no Brasil não é fácil, no Nordeste menos ainda, mas estou aqui para dizer que existe sim vida digna após os 35 anos mesmo sendo negra e nordestina.
Nunca desista de você, basta ir em busca dos seus objetivos sem abrir mão das oportunidades, sejam elas boas ou ruins, você só saberá se valerão a pena com o tempo.
Apenas vivam e estejam vivas, vivos, vives!
*Michelly Longo é ativista trans negra, baiana, cozinheira de profissão, casada e cheia de boas experiências para compartilhar.
Amanda Pereira
23/10/2020 16:03
Amo minha amiga linda 😍
Parabéns 👏👏👏👏 sucesso sempre
Amanda Pereira
23/10/2020 16:03
Minha amiga linda sucesso sempre😍
Alcione lírio
23/10/2020 17:37
👍👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏🌷🌷🌷