A internet tem este poder, maléfico, de transformar qualquer corpo diferente do tão sonhado ser ainda um corpo questionado

Por Leona T*

Vinicius de Moraes uma vez disse: “Que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental”. Até que ponto somos influenciadas e pressionadas a atingir tal padrão de beleza? Quando falo nós incluo todas as mulheres, indistintamente, e no caso das mulheres trans e travestis acentua-se com a eminência da passabilidade. Somos bombardeadas diariamente por mensagens e anúncios de que nosso corpo, mesmo sendo “bonito”, “aceitável”, ainda assim podemos melhorar aqui, puxar ali, tirar tal incômodo e por aí vai.

Será que realmente precisamos nos enquadrar dentro desse universo? Vinicius estava certo?

No caso das mulheres trans e travestis acentua-se com a eminência da passabilidade.

Hoje vemos uma padronização da beleza, mulheres, cis e trans, cada vez mais parecidas, com os mesmo lábios, cabelos, cinturas, proporções corporais que afastam cada vez mais corpos diferentes, corpos ditos “normais” dentro de um pensamento e um contexto onde o corpo livre é bonito, mas não estampa revistas e não vende a ideia de felicidade.

A internet e as redes sociais tem este poder, maléfico, de transformar qualquer corpo diferente do tão sonhado ser ainda um corpo questionado, invadido, desprezado. Enquanto mulher trans, me deparei desde sempre com questionamentos sobre minha aparência sempre relacionados à cisgenereidade e o quanto eu precisaria ser “bonita” ou “passável para que minha felicidade pudesse ser completa.

Somos bombardeadas diariamente por mensagens e anúncios de que nosso corpo, mesmo sendo “bonito”, “aceitável”, ainda assim podemos melhorar aqui, puxar ali

Lembro de amigas que por conta desse desejo de ter um corpo nos moldes dessa “perfeição” tiveram que recorrer por motivos financeiros a procedimentos como o aplique de silicone industrial ou próteses de silicone vencida – ou então pagar barato por um serviço de má qualidade para que o corpo possa parecer bonito.

Hoje vemos uma padronização da beleza, mulheres, cis e trans, cada vez mais parecidas, com os mesmo lábios, cabelos, cinturas, proporções corporais

Por outro lado, existe a liberdade de escolha, a autoestima e, no nosso caso, a busca da passabilidade como forma de proteção, para que não soframos tanta violência numa sociedade em que nosso corpo é motivo de chacota. Seja qual lado da moeda você escolher, saiba que a perfeição não existe, o tempo é irreversível e o que hoje é belo, amanhã não será.

Tudo muda, inclusive você.

*Leona T é trans-ativista, professora, criadora do canal Leona T e do projeto #nossahistoriatrans