Mês da Visibilidade Trans começa com assassinato de jovem e a certeza de que ainda temos muito o que fazer para mudar este quadro

Por Michelly Longo*

Fechamos 2020 com uma mulher trans preta, de 19 anos, sendo expulsa de um banheiro feminino, no último domingo de dezembro em uma cabana de praia famosa na cidade de Porto Seguro. De acordo com relatos de pessoas que estavam no local, mulheres clientes da tal cabana, ao ver Ayla Ferraz adentrar o local, comunicaram à segurança que havia “um homem vestido de mulher” dentro do banheiro.

Imediatamente os seguranças tiraram a moça ainda fechando a braguilha do short, pediram que mostrasse seu RG para que comprovasse ser mulher e para justificar o uso do banheiro feminino.

Não sejam contra nós, sejam aliados, toda ajuda é muito bem-vinda, não sejam apenas contra a transfobia, sejam anti-transfóbicos.

Abrimos 2021 com o assassinato de Keron Ravach (foto em destaque) de 13 anos na madrugada do dia 04/01 primeira segunda-feira, menina trans moradora de Camocim (CE), uma menina tímida que tinha o sonho de ser influencer. Teve sua vida e seu sonho interrompidos a pauladas, socos, chutes e facadas por um adolescente de 17 anos que disse estar motivado por um desentendimento.

Estamos no Mês da Visibilidade Trans, o mês que serve pra conscientizar, educar, informar que vidas trans importam vivas, que pessoas trans existem e não somos inimigas de pessoas Cis, queremos apenas viver e que nos deixem viver.

Uma menina tímida que tinha o sonho de ser influencer. Teve sua vida e seu sonho interrompidos a pauladas, socos, chutes e facadas.

A transfobia não pode continuar sendo proferida tão descaradamente, com o aval de tantos, como se tivesse aberta a temporada de caça a pessoas transvestigêneres que parece nunca encerrar, ou um grande grupo de extermínio com inúmeras ramificações soltas pelo Brasil.

Parem de nos matar, de nos agredir física e verbalmente, as nossas vidas jamais serão uma ameaça a vocês.

É tão triste ter que pedir misericórdia, implorar por nossas vidas como se estivéssemos fazendo algo de errado apenas em estarmos vivas, vivos, vives… Me dói saber que a existência dos meus é tão frágil nas mãos de pessoas tão cruéis, tão maldosas. Por que vocês nos odeiam tanto? Por que se incomodam tanto com a nossa existência? Por quê nos ridicularizam?

Não somos inimigas de pessoas Cis, queremos apenas viver e que nos deixem viver.

Quantas de nós precisarão morrer, serem agredidas, desaparecerem para vocês pararem? Não somos vilãs dos seus filmes de suspense, somos as vítimas e gostaríamos que fôssemos todos artistas principais desse grande filme de fatos reais que é a vida.

Não sejam contra nós, sejam aliados, toda ajuda é muito bem-vinda, não sejam apenas contra a transfobia, sejam anti-transfóbicos…

No mês da visibilidade trans… Visibilidade pra quem?

*Michelly Longo é ativista trans negra, baiana, cozinheira de profissão, casada e cheia de boas experiências para compartilhar.