O Dia Contra a LGBTIfobia é para lutar e conscientizar, não para comemorar  

O Dia Internacional Contra a LGBTIfobia é hoje, 17 de maio, e não deve vir acompanhado de verbos fofinhos como celebrar, comemorar ou valorizar. É um dia para verbos como lutar, resistir, pensar, agir, lutar de novo. O Brasil é há anos o país que mais mata pessoas LGBT no mundo todo, cerca de 350 ao ano. E hoje a gente lembra disso, de que ainda há um longo caminho a ser percorrido nessa estrada do arco-íris, que nem sempre é colorida. 

Há 31 anos, em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID). A data marcou o fim da patologização da homossexualidade. Mas marcou mesmo? Você que está lendo, vez ou outra não se sente visto como doente? Como aberração? 

Veremos hoje muitas marcas famosas e entidades à primeira vista respeitáveis fazendo uma “homenagem” à data. São as mesmas que em seus processos seletivos excluem pessoas trans, gays afeminados e quem não é binárie. Algumas iniciativas surgem há algum tempo ensaiando esta inclusão, mas muitas vezes acompanhadas de tantas exigências que fica impossível atender todas. 

A sutileza da LGBTIfobia exige consciência para ser percebida. É preciso ser mais inteligente que eles.

 

Quantas mulheres trans e negras, por exemplo, ocupam cargos de diretoria? Quantos gays afeminados são escolhidos como porta-vozes de suas empresas para ir à frente das câmeras? Não é pessimismo ou derrotismo, é realismo.  

Porque as cores da bandeira que hoje invadirão tantos perfis podem nos mostrar um mundo colorido, baseado na ideia de que “gays são divertidos e alegres”. E assim a sociedade, o CIStema, vai nos colocando como peças amigáveis, decorativas, inseridas apenas como adereço para um novo mundo que exige a diversidade para vender. 

Então 17 de maio é o dia de combate (e sim, vamos de termos bélicos porque aqui ninguém veio a passeio, é luta) a todo tipo de buraco que ainda exista entre nós LGBTI e o mundo que deveria ser de todes, mas ainda não é. Morremos a pauladas enquanto CEOs posam com sorrisos amarelos para fotos de inestimável valor comercial. 

Não somos mercadoria e hoje, e todos os dias, precisamos lutar contra a fobia de quem finge que aceita, mas derruba sua própria máscara em pequenos atos. Afinal, um homem gay e solteiro ainda hoje é visto como alguém que não tem família para sustentar, não precisa tirar férias (ou pode ficar por último na lista de prioridades de descanso).  

Algumas iniciativas surgem há algum tempo ensaiando esta inclusão, mas muitas vezes acompanhadas de tantas exigências que fica impossível atender todas.

 

Se este funcionário tem o fim de semana livre, pensam, é claro que é para festar, usar drogas (porque só os LGBTI usam drogas no mundo, né?), fazer só coisa que não é importante. É apenas um pequeno exemplo de uma agressão diária que não vemos, mas sentimos. A sutileza da LGBTIfobia exige consciência para ser percebida. É preciso ser mais inteligente que eles. 

Por isso hoje não é para celebrar, é para pensar. Quantas mulheres trans você já viu trabalhando em bancos, farmácias e todo tipo de local no atendimento ao público, mostrando a cara? Poucas, infelizmente. Então hoje não é um dia bonitinho para nós, é um dia triste porque nos joga na cara que AINDA temos que lutar – mesmo que a mídia e a publicidade tenham avançado e mostrem um mundo perfeito. 

Sabemos muito bem que não é assim. Projetos de lei carregados de ódio, um Poder Executivo federal que nos persegue dia e noite, força policial mal treinada, religião dominando a Constituição, desemprego, fome, violênciaSSS (plural mesmo). Não, não é dia de fazer post alegre comprando a ideia de que já vivemos em um mundo ideal. 

A gente que vive na pele a realidade não pode se confundir. É luta.