Mama Darling faz da vacinação ato político de resistência contra o negacionismo e o genocídio promovidos pelo desgoverno federal  

A vacinação no Brasil se tornou um ato político de resistência ao negacionismo e ao genocídio promovido pelo descaso do governo federal com uma doença que não arrefece, já apontando sua terceira onda. Foi sabendo bem desse simbolismo que a drag Mama Darling, de São Paulo, caprichou no look na sua vez de tomar a vacina, em um posto de saúde, aclamando o Sistema Único de Saúde (SUS). 

“A ideia veio para justamente mostrar para todos a importância de sermos vacinados e principalmente de termos vacina. Sabia que a figura da Drag levaria essa mensagem com uma efetividade muito maior do que simplesmente o Fernando tomar a vacina”, conta à Ezatamag na entrevista a seguir. 

Fernando Magrin é o artista responsável por dar vida à Mama. Uma história que começou quando muita gente achava que era tarde demais. Aos 51 anos, ele uniu o amor pela arte drag ao seu cargo de executivo em uma grande empresa aérea. O resultado foi mais do que satisfatório com a empresa adotando Mama e a diversidade. Saiba tudo: 

Como Mama Darling surgiu? O que ela mudou na sua vida, fez por você neste tempo? 

A Mama Darling nasceu com o Bloco MinhoQueens em 2016 quando eu tinha 51 anos. Eu sou formado em Artes Cênicas e assim que me formei consegui um emprego em uma grande companhia aérea, a American Airlines, e lá fiz uma carreira de 24 anos, deixando as artes de lado. Quando a Mama nasceu a empresa a abraçou tanto quanto o Bloco. Ganhei uma visibilidade grande por ser o executivo que também era Drag. Essa introdução para dizer que o presente maior que ganhei da Mama foi voltar a ser artista!!! 

Mama: Não basta uma peruca e um salto alto

Como foi a escolha do nome?  

Eu assisti um filme chamado “Gray Gardens”, com a Drew Barrymore e Jessica Lange. A Drew era a filha e chamava Jessica de Mother Darling. Eu tirei o nome daí e também porque o público do MinhoQueens é beeeeem mais xovemmm que eu, Mama seria um ótimo nome pra minha Drag.  

Quais são suas referências na hora de construir a Mama? Tem alguma mensagem que você quer passar para as pessoas? 

Como minha Drag nasceu aos meus 51 anos de idade, muitas referências permeiam a Mama. De Paulletty Pink às drags do RuPaul’s Drag Race, tudo isso misturado a uma autenticidade do alter ego do Fernando impresso na figura da Mama. Pode parecer clichê, mas sonhos não envelhecem!!! Nunca desista de um sonho. Sinto que sou prova viva disso, não me acomodei com a vida de executivo bem sucedido e fui atrás de ser o artista que sou! Isso me faz me sentir uma pessoa mais completa!  

A ideia veio para justamente mostrar para todos a importância de sermos vacinados e principalmente de termos vacina

Você tem percebido um crescimento da arte drag?  

Não só sinto um crescimento, como uma valorização da arte Drag. Muitos fatores levam a isso, de Rupaul’s Drag Race ao sucesso de Pabllo Vittar, passando pelo “Nasce uma Rainha” da Netflix (que participo hahahaha). E continuamos resistência, mesmo em tempos como os atuais, com a ascensão de uma direita radical que nos tenta colocar à margem da sociedade.  

Como ter mais drags e manter a qualidade da arte, é preciso compromisso com o ser drag?  

Sim! Muito. Não basta uma peruca e um salto alto. Esse comprometimento deve vir com a total compreensão do papel da Drag na sociedade.  

Eu vi você sendo vacinada! Que show! Como surgiu a ideia de ir montada? É um ato político?  

A ideia veio para justamente mostrar para todos a importância de sermos vacinados e principalmente de termos vacina. Sabia que a figura da Drag levaria essa mensagem com uma efetividade muito maior do que simplesmente o Fernando tomar a vacina. Um ato político? Sim! Total! E também pra aproveitar e enaltecer o SUS! Viva o SUS e não ao desmonte e sucateamento da saúde pública!  

Um ato político? Sim! Total! E também pra aproveitar e enaltecer o SUS! Viva o SUS e não ao desmonte e sucateamento da saúde pública!

 

Você acredita que um novo mundo vem se desenhando para o pós-pandemia? Qual o papel dos LGBT nele?  

Quero acreditar que sim, mas ao mesmo tempo vejo tanto retrocesso em tantas áreas que fica difícil acreditar na humanidade. Mas como boa aquariana que sou quero sim que a Era de Aquário traga novos ares, mais amor, mais liberdade e mais justiça. A comunidade LGBT vai continuar resistindo e lutando por direitos e respeito. Somos quem somos e não nos derrubarão!  

Como tem ficado seu trabalho como drag na pandemia?  

Nunca me montei tanto quanto na pandemia!!! Desde o início da pandemia, semanalmente faço o Papo de Drag no canal do Minhoqueens, a cada semana entrevisto alguém, levando conteúdo e diversão para o nosso público. No Carnaval fizemos um festival de Cultura Drag, seis lives em três sábados, e foi maravilhoso. Tenho também dado palestras para empresas contando minha trajetória no mundo corporativo e ao mesmo tempo sendo uma Drag Queen que comanda um dos maiores blocos LGBT de São Paulo.  

Sabia que a figura da Drag levaria essa mensagem com uma efetividade muito maior

Agora me conta qual é o seu maior sonho! 

Meu maior sonho é abrir a Casa MinhoQueens, um centro de atendimento à comunidade LGBT, dando atendimento e capacitação para a comunidade. Esse é um sonho que tenho certeza vou conseguir concretizar. Principalmente a população trans e travesti, que geralmente são colocadas à margem da margem, capacitar essas pessoas para que tenham condições de serem inseridas no mercado formal de trabalho. Que venha a Casa MinhoQueens!!!