Henrique Brandão optou pela Endocrinologia para garantir segurança a pacientes trans – e atender uma demanda crescente
O processo de hormonização em uma pessoa trans é algo complexo e muito sério, o que exige um acompanhamento profissional de qualidade. É de olho nesta segurança para pacientes trans que Henrique Brandão escolheu se especializar em Endocrinologia – e também porque percebeu que no Brasil ainda há muito desconhecimento deste processo e pouca gente especializada para atender bem.
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Aos 28 anos e terminando sua especialização pela Mater Dei de Belo Horizonte (MG), ele conta à Ezatamag que “fiz grande parte da minha faculdade fora do Brasil e me assustou muito chegar aqui e ver que até mesmo especialistas de áreas relacionadas a hormônios, ginecologia, psiquiatria, não sabem trabalhar com a população trans. Isso mostra a negligência a exclusão social e isso foi para mim bem chocante”.
Com residência em Clínica Médica completa e formação no Estados Unidos, Chile e Inglaterra, Henrique sabe que a realidade brasileira de pacientes trans é que “muitas vezes têm que fazer hormonização por conta própria, procurar clínicas às vezes até ilegais para fazer cirurgias. Eu mesmo tenho experiências com pacientes que foram à farmácia e compraram os hormônios porque leram em algum lugar ou um amigo usa, isso é muito complicado”.
Me assustou muito chegar aqui e ver que até mesmo especialistas de áreas relacionadas não sabem trabalhar com a população trans. Isso mostra a negligência a exclusão social.
Ele lembra que “cada pessoa tem uma formulação diferente, uma dosagem diferente, um tipo de hormônio diferente” em sua trajetória e ressalta que é importante entender se aquela ou aquele paciente tem vontade futuramente de ter filhos. “Então tem que trabalhar com a parte da fertilidade também.”
Fica claro que não há uma regra geral para a hormonização, existem opções mais agressivas, outras mais cautelosas, isso tudo é muito relativo. “Sem contar que qualquer tipo de hormônio tem efeitos colaterais e precisa ser bem administrado”, atenta o médico.
“Pode causar tromboses, afeta também a parte hepática, no fígado, no perfil de colesterol, que tende a piorar muito. É muito importante que a pessoa entenda também quando começar a hormonização que tabagismo também é algo muito prejudicial. A gente tem que entender também se essa pessoa pretende fazer alguma cirurgia. Então realmente precisa de acompanhamento!”
Interessades no processo precisam saber, informa Henrique, que a legislação brasileira diz que pacientes trans são proibides de começar antes dos 16 anos qualquer tipo de hormonização, de terapêutica. “Às crianças e aos adolescentes iniciais o que é permitido é um acompanhamento psicológico, um trabalho para entender o que esse paciente passa.”