Netflix aposta em filme natalino gay bem legal, mas ainda um pouco longe da realidade
Por Eduardo de Assumpção*
“Um Crush para o Natal” (Single All the Way, EUA, 2021): Peter (Michael Urie) não está emocionalmente feliz. O jovem, influencer e apaixonado por plantas, que divide o apartamento com o melhor amigo Nick (Philemon Chambers), acaba de descobrir que o cara que está saindo é casado, e que seus planos de levá-lo para conhecer a família no Natal foram por água abaixo. O que Peter não percebe é que o que procura está bem embaixo de seus olhos.
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Como o personagem principal tem pais super abertos, que fazem questão de vê-lo com um namorado, Peter decide levar Nick na viagem e fingir para a família, que já o conhece, que a amizade evoluiu para um romance.
Mas ao chegar em casa, em New Hampshire, nem há tempo de anunciar o namoro. A mãe, Carole (Kathy Najimy), vai logo contando que marcou um encontro às cegas para o filho e que essa é uma chance que ele não pode deixar passar. Ao conhecer o bonitão, James(Luke Macfarlane), ele se encanta, porém o assunto é só um: Nick.
Com a leveza de um filme natalino e a doçura de uma comédia romântica, o filme do diretor Michael Mayer e roteiro de Chad Hodge, investe no nicho LGBTQIA+, que foi tão bem sucedido no ano passado com “Alguém Avisa?”, com Kristen Stewart. O grande erro dessa primeira produção da plataforma para o gênero Natal é ser higienizada demais.
Códigos natalinos estão todos lá, até porque nos Estados Unidos esse é um feriado realmente celebrado. Há luzes, decoração, mas tudo com um olhar queer, fazendo referências a Juíza Judge, Whitney Houston, Na Cama com Madonna(1991), Grindr, além de algumas das canções temáticas interpretadas por artistas como Girls Aloud e Britney Spears.
Jennifer Coolidge ilumina a tela e rouba a cena como a Tia Sandy, que está dirigindo uma versão desconstruída do nascimento de Cristo. Essa, a propósito, é a segunda vez que a atriz trabalha com Michael Urie neste ano, tendo sido a anterior no excelente “O Canto do Cisne”, com Udo Kier.
Enquanto Peter resiste às investidas de James, Nick curte o aconchego da família do amigo, e ainda realiza uns bicos como faz-tudo. A essas alturas, o personagem, que é um autor de livros infantis, conquistou todos, e é ele que a família quer em seu núcleo.
Em suma, o filme é uma produção com o selo Netflix, bonito e iluminado pelo espírito natalino. No entanto, seus personagens homossexuais parecem um pouco deslocados da realidade, em uma visão com poucos conflitos, muito otimista e bem embalada como os mais belos dos presentes de Papai Noel.
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib