Mott: Triste Bahia!
Número de mortes violentas de LGBT crescem 8% em um ano, aponta GGB
O ano de 2021 registrou pelo menos 300 mortes violentas de pessoas LGBT. É o que aponta um dos principais e mais longevos levantamentos sobre a LGBTfobia no Brasil, o relatório anual do Grupo Gay da Bahia (GGB), com base em notícias coletadas em parceria com a Aliança Nacional LGBTI+. O número é 8% maior do que o de 2020.
Leia também:
Baiano Corre Coletivo Cênico lança videocast para discutir HIV/AIDS
Mato Grosso do Sul lança campanha para incentivar denúncias de violência contra pessoas LGBT
Ceará oficializa seu Observatório dos Crimes Correlatos por LGBTQIAPNfobias
O estudo registra 276 homicídios (92% do total) e 24 suicídios (8%). “O Brasil ainda é o país do mundo onde mais se assassina LGBT: uma morte a cada 29 horas”, afirmam as entidades. 35% dos casos se concentraram na região Nordeste e 33% no Sudeste.
“É a primeira vez que o Sudeste concentra tantos óbitos. Mais do que a soma das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. Não há regularidade sociológica que explique essa e muitas das ocorrências, como também, por exemplo, a redução das mortes nos meses de primavera”, diz o GGB.
O Estado de São Paulo lidera a lista: foram registradas 42 mortes, 14% do total. Em seguida, vêm Bahia (32), Minas Gerais (27) e Rio de Janeiro (26). Entre as capitais, Salvador tem 12 mortes e São Paulo 10. Assim, diz o coletivo, o risco de um LGBT baiano ser vítima de morte violenta é 75% maior que o de um paulistano.
O Brasil ainda é o país do mundo onde mais se assassina LGBT: uma morte a cada 29 horas.
“Nós sempre dizemos que Bahia deve rimar com alegria e não com homofobia! Um povo tão alegre, hospitaleiro, que aplaudiu quando Daniela Mercury e Mãe Stela de Oxossi se assumiram lésbicas. Mas que ao mesmo tempo é capaz de tanta violência e mortes contra os LGBT. Triste Bahia!”, comenta o professor Luiz Mott, fundador do GGB.
Os gays são metade das vítimas: 153 (51%). Segundo o grupo, eles são há quatro décadas os mais atingidos pela violências. Depois deles, vêm travestis e transexuais (110 casos, 36,7%) lésbicas (12 casos, 4%), bissexuais e homens trans (4 casos, 1,3%). Há ainda uma ocorrência de pessoa não binária e inclusive um heterossexual, confundido com um gay.
No recorte de cor, 28% das vítimas eram brancas, 25% pardas, 16% pretas (classificação adotada pelo IBGE) e uma indígena. Em 30% dos casos, não havia informações disponíveis. A idade variou de 13 (uma travesti) a 76 anos (gay). Quase metade (47%) tinha de 20 a 39 anos.
Cruel
O professor Domingos Oliveira, responsável pela coleta e sistematização dos dados, critica a qualidade dos dados disponíveis. “O descaso da polícia e desleixo dos jornalistas em registrar com precisão as informações básicas indispensáveis para identificação dos LGBT assassinados, é um aspecto da homotransfobia cultural que macula nossa sociedade, além de dificultar uma análise mais profunda e completa dessas mortes violentas”, afirma.
Entre as capitais, Salvador tem 12 mortes e São Paulo 10.
Nos assassinatos, 28% ocorreram com as chamadas armas brancas (faca, facão, tesoura, enxada). Houve um caso em que a vítima recebeu 95 facadas. Outras 24% foram com armas de foto e 21% por espancamento ou estrangulamento.
“Os requintes de crueldade em muitas dessas execuções demonstram o ódio extremo dos criminosos, que, não contentes em matar, desfiguram a vítima lavando no sangue derramado sua homofobia assassina”, comenta Toni Reis, da Aliança Nacional LGBTI+.