A água e as asas na música de Jhimmy Feiches

Por Dan Barroso*

Hoje eu trago uma entrevista com o cantor Jhimmy Feiches. Mas antes, eu vou contar a história de como eu conheci esse que eu considero um grande artista. Eu estava comandando o karaokê no bar em que eu trabalhava. E eu, que sempre fui um apaixonado por música, sempre prestei atenção nos talentos que apareciam por ali.

Leia também:

Quanto mais trans e travestis nas novelas, melhor!!!

Como a vivência de Vyni no BBB reflete a realidade da falta de afeto para nós LGBT

Série apresenta Warhol para a nova geração e reafirma sua importância como um dos maiores de todos os tempo

Então, veio pra cantar um garoto magrinho, meio de ombros curvados pela timidez e com o cabelo por cima do rosto. Consegui perceber olhares estranhos ao redor, quase como aconteceu com a Susan Boyle, lembra? Aquela coisa de julgar ruim antes de conhecer. E então ele começou a cantar “New Rules”, da Dua Lipa… e foi ovacionado pelas pessoas presentes quando terminou! Foi lindo!

Conversamos e ele me contou que morava em Macapá (AP) e estava de férias em São Paulo. Trocamos contatos e cinco anos se passaram. Até que no ano passado ele lançou seu primeiro álbum e seu primeiro clipe. Eu me apaixonei! Agora com Jhimmy Feiches devidamente apresentado, eu começo aqui um bate-papo com ele:

Notei que você sempre fala sobre ser pássaro ou estar na água. Inclusive é o tema da capa do álbum e tem também na história em quadrinho que acompanha o álbum. O que significa isso pra você?

Eu fico muito feliz em poder dividir minha música contigo e obrigado por acompanhar. Eu sempre fui uma criança fascinada com o mundo não material, sempre fui muito sonhador… Lembro que, desde que me entendo por gente, queria estar perto de bichos e os bichos aquáticos eram sempre meus favoritos. Eu gosto muito de água, de rios, lagos… tenho um fascínio por sereias, haha. O pássaro que menciono na música de abertura do álbum, o “Bico de Lacre”, é um pássaro que eu costumava receber visitas na infância. Muitos deles vinham aos montes para o quintal da minha casa ou faziam ninho na árvore… tanto minha obsessão pela água quanto o contato com os Bicos de Lacres me davam essa sensação de ser livre. Por isso eu acho que as duas coisas me marcaram tanto. Hoje em dia, não recebo mais as visitas dos pássaros, mas continuo sempre Dentro D’água, que é o lugar onde sinto que posso ser 100% eu.

O álbum é bem pessoal porque é quase um diário, às vezes eu não sei se é uma boa ideia expor tanto assim, mas fico feliz que eu tenha tido coragem.

E “Dentro D’água a gente não chora” é o nome do seu primeiro álbum. Você pode falar um pouco sobre o processo de criação?

Desde o início eu me propus a visitar e estudar minha própria história, peguei os cadernos e diários da época de escola pra tentar entender quem eu sou, e se visitar no passado é algo que pode trazer dor, comigo não foi diferente. Eu revivi o primeiro amor, muitas crises de ansiedade e depressão, conflito comigo mesmo… por outro lado revivi qualidades que eu tinha e não lembrava, principalmente minha habilidade de sonhar, coisa que a vida adulta não me permite fazer. Eu fui construindo as músicas, às vezes eu compunha a melodia primeiro e depois estruturava a letra, outras vezes eu já criava uma melodia com uma intenção. Quando eu percebi que tinha um monte de música, tive que começar a descartar pra decidir quais estariam no álbum. O título do álbum é a musica que fala exatamente quem é o Jhimmy e quem eu era antes dele. Acho que isso foi importante pra um primeiro álbum, quase uma apresentação. O álbum começou a ser produzido em 2016, foi um processo muito lento por questões financeiras que limitam o artista independente. Meu produtor, Felipe Alme, teve um importante papel no trabalho, me ajudou na composição de algumas melodias e me permitiu produzir várias músicas com ele.

“Sempre fui uma criança fascinada com o mundo não material, sempre fui muito sonhador…”

É um álbum bem pessoal, né? Como foi a recepção desse trabalho?

O álbum é bem pessoal porque é quase um diário, às vezes eu não sei se é uma boa ideia expor tanto assim, mas fico feliz que eu tenha tido coragem. A recepção foi calorosa na medida do possível, de uns tempos pra cá as pessoas tinham mais interesse no meu trabalho, mas eu fico feliz que os que me ouvem, acabam fazendo isso sempre, daí eu fico motivado pra fazer mais.

Capa do álbum que “é bem pessoal porque é quase um diário”

Qual a música mais especial do álbum pra vc?

A música mais especial é difícil, porque eu fico com pena das que eu possa considerar menos especiais (risos). Mas eu amo muito todas, acho que, por enquanto, posso dizer que a música título do álbum merece bastante atenção porque ela apresenta quem eu sou e o que esperar do meu trabalho.

E temos alguma notícia sobre o próximo single?

Eu queria fazer single de pelo menos sete músicas, mas ser artista independente é sufoco. Então eu vou ficar feliz com os singles que acontecerem. Mas olha, posso dizer que neste ano tem dois singles planejados: “Bico de Lacre” e a outra ainda estou estudando.

Muito obrigado, Jhimmy, por compartilhar esta experiência com a gente!  

Muito obrigado pela conversa e por me acompanhar, tenho muito pra mostrar e convido todos os leitores a me ouvirem nas plataformas de música. Estamos quase chegando às 100 mil reproduções e eu fico muito animado em poder me apresentar para pessoas de outro Estado através de entrevistas e vídeos.

*Dan Barroso é guarulhense e candomblecista. É designer editorial e idealizador do Projeto Abraço Editorial. Militante por paixão e por querer fazer a diferença na vida das pessoas. Também é promoter da noite gay paulistana e aspirante a músico.