“Frida” usa a criatividade como ferramenta para dissecar uma vida tempestuosa

Por Eduardo de Assumpção*

A história de como Salma Hayek tentou durante anos interessar Hollywood em Frida Kahlo é um filme por si só. Sua habilidade como produtora, sua tenacidade como lutadora, seu talento como artista e sua inspiração como atriz finalmente se concretizaram na adaptação do livro de Hayden Herrera.

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Amigos próximos, como Ashley Judd e Antonio Banderas, fazem pequenos papéis como forma de apoio. Dirigido por Julie Taymor, cujo trabalho nos palcos da Broadway é reconhecido internacionalmente, este é um filme biográfico que usa a criatividade como ferramenta para dissecar uma vida tempestuosa.

Nascida de pai judeu alemão e mãe mexicana, Frida cresceu na Cidade do México em uma época em que era um foco de exílio e intriga. Como estudante, ela vai ver o grande muralista Diego Rivera (Alfred Molina) no trabalho, chama-o corajosamente de “pançudo” e já sabe que ele é o homem de sua vida. Seu caso de amor com Rivera durou até o dia em que ela morreu, aos 46 anos.

Vinte e um anos mais velho que ela, o muralista era conhecido como mulherengo, comunista e um marido infiel. Ainda assim, Rivera e Kahlo se casaram duas vezes. O filme captura o clima do momento com talento e estilo genuínos e enfatiza o debate político sério em mesas rodeadas por tequila.

A bissexualidade de Frida é abordada em alguns momentos. Seu caso com Leon Trotsky (Geoffrey Rush), em exílio no México, é rapidamente pincelado. As pinturas de Frida muitas vezes mostram a si mesma, sozinha ou com Diego, e refletem sua dor e seu êxtase. Elas estão em uma escala menor do que os famosos murais, e a arte dela é ofuscada pela de Rivera.

Os roteiristas ficam próximos da relação central, sem perder o contato com a liberdade de pensamento da intelectualidade mexicana. O entusiasmo de Hayek irrompe na vida de Frida, irradiando-a com vitalidade, e Molina é magnífico como um adorável patife cujo respeito pelo trabalho de sua esposa supera qualquer obsessão pelo seu.

Filmado inteiramente em locações no México, o filme de Taymor conseguiu recriar um momento extraordinário para uma mulher excepcional e simbólica. Ela faz isso com amor e imaginação levando a arte à vida. Disponível na Claro TV.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib