É uma explosão de talento e versatilidade o abalo que traz Mercedez Vulcão
Mercedez Vulcão é a lava quente que queima o preconceito e derrete os padrões. É a explosão de uma criatividade versátil, de vários e diferentes sons, com músicas sempre fortes como a vontade de quem quer – e vai conseguir viver como artista em um Brasil que patina na vontade de andar. Enquanto isso, Mercedez acelera nessa estrada, problema de quem não olhar antes de atravessar.
Leia mais:
Quatro maravilhosas de Recife que são um grito de talento contra vários preconceitos
Âncora do Marujo é um símbolo de resistência e aceitação LGBT em Salvador
Mora em São Paulo e acaba de lançar “Apego” ao lado de Naja White, arrasou no reality “Queen Stars Brasil” e conta à Ezatamag que a retomada da agenda de shows está sendo uma loucura. São múltiplas funções que engrenam diversos talentos e – mesmo na correria – garantem uma maestria, uma propriedade integral de sua obra. Você pode até não se identificar com o estilo dela, mas não pode negar que ela sabe muito bem o que está fazendo.
E além de tudo isso traz outro talento que não é tão exigido no mundo drag: escreve de forma fluida, correta, coerente. Sabe onde começou, não esquece como desenvolver o que quer comunicar e finaliza sempre imprimindo sua marca. A gente não teve coragem de editar nada dela:
A retornada pós pandemia está sendo meio drástica. Parece que tudo resolveu voltar ao mesmo tempo né, então estou ainda me readaptando a vida corrida que eu tinha antes da pandemia.
Minha agenda tá meio maluca por conta de vários projetos que estou levando ao mesmo tempo, como shows em boates, projetos corporativos e o lançamento das minhas músicas autorais com clipes, o que por si só demanda bastante atenção, já que estou fazendo tudo de forma independente!
Muita coisa mudou. Acho que deu pra lapidar muita coisa durante o isolamento, e acho que esse retorno está dando bastante vontade de fazer as coisas, então eu diria que tem mais sangue nos olhos agora do que nunca, pra fazer os projetos acontecerem.
Passamos tempo demais sem o presencial, os artistas foram afetados demais pela pandemia. E nesse meio tempo a gente teve que se virar do jeito que deu, adaptar pro online, foi uma loucura. Uma coisa que deu uma salvada foram os projetos corporativos que desenvolvi juntamente com o @armazem_co , onde levamos drag pra dentro do contexto corporativo, levando projetos de comunicação e aprendizagem para empresas.
Além disso, durante esse período todo trabalhei bastante minhas músicas autorais, que já estavam compostas antes da pandemia, mas que por conta disso tiveram seu lançamento atrasado.
Este ano o plano é seguir colocando minhas músicas no mundo, fazer mais shows presenciais e conseguir levar meu trabalho a cada vez mais pessoas. Entendi que os processos para se lançar uma música de forma independente são muito mais demorados do que eu imaginava, então pretendo também já começar a trabalhar na criação de novas músicas.
Eu acho incrível o boom que houve em relação à arte drag na mídia mainstream. Acho que isso ajuda a desmarginalizar nossa profissão e também a desmistificar essa figura que é a drag. Claro que tudo é um processo, é comum que isso tudo venha acompanhado de hates ou até mesmo de um público fanático que, por assistir um recorte muito limitado e comercial da nossa arte, pode acabar não sendo educado a respeitar a diversidade que existe dentro da arte drag em si.
Mas eu acho que isso é um detalhe perto do alcance que a arte drag está alcançando hoje em dia, acho que quanto mais gente vendo nossa existência e nossa potência, melhor.
Minha trajetória artística já havia começado antes da arte drag. Eu sou do teatro, faço teatro desde os 11 anos de idade e nunca mais parei. Então já são 23 anos percorrendo esse caminho dos palcos. Agora, a drag já é algo mais recente, faço há 6 anos.
Nesse caminho foram muitos aprendizados, mas eu acho que o maior deles é entender que a gente não faz nada sozinho nessa vida. Na nossa trajetória a gente sempre vai contar com a colaboração de muita gente, e vai contribuir com o trabalho de outras pessoas também. Ser artista no Brasil não é fácil, quase nunca a gente tem os recursos pra fazer o que quer, então ter essa rede de solidariedade e de cooperação é muito importante.
Acho que quem pensa que já sabe tudo acaba estagnando.
Pra quem está começando eu digo: estude! Estude bastante! E coloque sua drag no mundo o máximo que puder. Porque é só assim que a gente vai lapidando nosso trabalho. No começo não vai ser bom mesmo, e tá tudo bem. É com tempo e experiência que a gente vai refinando nosso trabalho, mas pra isso a gente precisa fazer e precisa se alimentar de referências. Assistir outras drags, buscar o trabalho de drags de outras regiões que não a sua, buscar vídeos e documentários de drags que já não estão mais entre nós, estudar tecnicamente os processos que envolvem o fazer drag.
Ah! E outra coisa importante: não se iluda! Você vai ouvir muito “não” antes de começar a ouvir algum “sim”. Vai ouvir muita gente falando mal do seu trabalho. Se você pautar sua vontade de fazer por essas coisas, provavelmente não vai durar muito tempo. Então foque no seu próprio desenvolvimento que é o melhor que você pode fazer por você e pela sua drag.
Atualmente, dentre meus sonhos enquanto artista, um deles parece bem simples mas, no Brasil, não é: viver confortavelmente a partir do meu próprio trabalho. Ser drag tem muitos altos e baixos e frequentemente com pouca valorização financeira.
Atualmente, além de fazer drag eu ainda tenho algumas frentes de trabalho como autônomo que complementam minha renda, então tem hora que o burnout bate quando preciso dar conta de tudo. Será que é pedir muito um pouco de paz sendo artista nesse país? Hahaha
Mas pra além disso, ser reconhecido pela qualidade do meu trabalho também é um dos meus sonhos. Então eu trabalho bastante pra estar sempre lapidando o que eu faço, uso minha insatisfação a meu favor pra buscar sempre uma melhora. Acho que quem pensa que já sabe tudo acaba estagnando.