Em “Tom na Fazenda”, Xavier Dolan nos entrega uma atuação consistente e um filme belíssimo
Por Eduardo de Assumpção*
Em “Tom na Fazenda” (Tom à la Ferme, Canadá, 2013), Xavier Dolan nos entrega uma atuação consistente como Tom, um jovem que recém perdeu o namorado e vai para o funeral, na fazenda de sua família, onde fica hospedado junto do irmão Frances(Pierre-Yves Cardinal) e da mãe do namorado, Agathe, interpretada por Lise Roy.
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Com uma ruptura estética, Dolan conseguiu construir, com um baixo orçamento, um filme visualmente belo. “Tom na Fazenda” é um thriller psicológico marcado por pura tensão sexual entre os personagens principais e por seu texto amplamente teatral. O roteiro baseado em uma peça de Michel Marc Bouchard, que ajudou a construir o texto, narra a visita, que acaba por se transformar em outra coisa, quando Tom descobre que a mãe de seu parceiro não sabia que o filho era homossexual e que o irmão mais velho, tem um histórico de uso de violência extrema contra um rapaz gay da cidade.
Violento, o irmão abusa de Tom, ao mesmo tempo que uma forte atração vai sendo desenvolvida. As cenas de fuga de Tom no milharal são esteticamente as mais bonitas do filme. O irmão o obriga a inventar para a mãe sobre uma suposta namorada do filho falecido, Sarah, e Tom embarca nessa farsa. Ao mesmo tempo que se sente sufocado parece estar gostando de estar lá e se envolver num jogo doentio.
A mãe Agathe, não é a típica figura materna criada pelo diretor, ela é passiva, e só quer mesmo saber da namorada de seu filho morto, ainda que tenha seu momento de epifania na trama. Enquanto cheira cocaína com Francis, ou dançam um tango ao som de uma belíssima canção, do Gothan Project, os dois vão criando uma relação afetiva, mesmo que o macho alfa faça tudo para abafar ainda que instigando o colega.
Sua maior preocupação, porém, é fazer a mãe acreditar que o outro filho ainda era heterossexual. O filme mantém o clima de thriller psicológico o tempo inteiro, é uma evolução na obra de Xavier Dolan. A cada filme acompanhamos sua maturidade crescer, e isso mostra um poder de se reinventar ao mesmo tempo que mantém sua identidade.
Disponível na @mubibrasil
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
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Twitter: @eduardoirib