“Retrato de uma jovem em chamas” é cheio de metáforas e simbolismos que levam a um desfecho brilhante
Por Eduardo de Assumpção*
Com “Retrato de uma Jovem em Chamas” (Portrait de la jeune fille en feu, França, 2019), a diretora Céline Sciamma foi premiada em Cannes pelo roteiro, e indicada ao Globo de Ouro de Filme Estrangeiro por seu quarto longa – facilmente chamado de obra-prima. A trama se passa em 1770, quando Marianne (Noémie Merlant) é contratada para pintar o retrato da jovem Héloïse (Adèle Haenel) para que seja avaliado por um futuro pretendente.
Leia também:
“Divinas Divas” é generoso com suas protagonistas, um reconhecimento muito merecido
“O Ano de 1985” explora a realidade sobre a epidemia de HIV de um ângulo comovente
O detalhe é que Heloise, que acaba de sair do convento, não deve saber que está sendo pintada e deve acreditar que Marianne é apenas uma dama de companhia. Passados os dias entre os rochedos, as duas acabam desenvolvendo uma cumplicidade, conversas sobre o futuro e amizade. O vento, que faz com que elas tenham que usar lenços e ficam só com os olhos descobertos, já faz com que os primeiros olhares sejam intensos.
A fotografia, de Claire Mathon, é belíssima, sobretudo nesses momentos diante de mar e rochas. Marianne pinta à noite, criando uma Heloise aos pedaços, com muita dificuldade, já que essa nunca está sorrindo. Quando a pintora conta a Heloise sobre o quadro, ela não gosta do resultado e decide então que vai posar.
É nos momentos em que posa que o amor aflora. Quando a mãe de Heloise vai viajar, as duas se entregam para toda aquela tensão sexual que vinha cercando as garotas. As personagens se permitem então ter uma relação, o sexo é retratado em cenas eroticamente sutis.
Como uma verdadeira obra de arte, a beleza do filme está nos detalhes: em Marianne tocando uma sinfonia, nos traços delicados de Heloise, nas pinceladas de tinta, no rochedo. Ganhador do César de Melhor Fotografia, o filme é como um belo retrato barroco.
O longa é visto de um ponto totalmente feminino, até quando aborda temas como aborto em plenos 1700. “Retrato de uma jovem em chamas” é cheio de metáforas e simbolismos que levam a um desfecho brilhante. Disponível no @telecine
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib