“Dahmer: Um Canibal Americano” é uma série incrivelmente bem-sucedida que não romantiza o perpetrador

Por Eduardo de Assumpção*

“Dahmer: Um Canibal Americano” (Monster: The Jeffrey Dahmer Story, EUA, 2022) Glamourizar um assassino pode ser problemático. Mas não é o que Ryan Murphy e sua equipe fazem aqui. A nova parceria do produtor com a Netflix, é um exame profundo de uma mente doente, perversa e sádica. Não é fácil de assistir.

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Começa em Milwaukee, em 1991: Jeffrey Dahmer(Evan Peters) atrai um homem para seu apartamento. Cheira a podre, ele tranca a porta, brinca com a vítima e quer matá-lo. Mas o homem consegue escapar, chama a polícia e volta. Dahmer é preso. Ele aprendeu que ser branco e homem poderia lhe permitir imensa liberdade.

Quando ele também descobre que simplesmente dizer “coisas gays” ou “nós, homossexuais” faz os policiais recuarem, ele tem uma combinação de dois golpes para manter os olhares indiscretos longe. A série funciona nos mostrando como os estágios do protagonista evoluem. Isso é feito por meio de saltos temporais, que às vezes são separados por uma década.

E também mostra como ele espera ser pego várias vezes. Apenas para descobrir que ele pode se safar. Evan Peters, ganhador do Emmy, já ofereceu performances insanas junto de Ryan Murphy, em temporadas de AHS. Mas é diferente aqui, ele encarna o brilho louco dos olhos do psicopata, ele assusta, ele intimida, ele irrita, ele canibaliza.

Além do pai Lionel(Richard Jenkins), outro papel fundamental da série é o da vizinha Glenda Cleveland(Niecy Nash) que fez inúmeras tentativas de chamar a atenção da polícia para o lugar onde o massacre estava acontecendo, no entanto nunca com sucesso. E como de costume na obra de Murphy, ele não ignora os fantasmas da época, no caso o HIV, que é abordado em algumas ocasiões.

Na mais impressionante quando o próprio assassino aparece representando a doença e o medo da comunidade. ‘Dahmer: Um Canibal Americano’ é uma série incrivelmente bem-sucedida que não romantiza o perpetrador, mas também se concentra em suas vítimas e ao fazer isso, ela consegue algo que falta em muitas adaptações das façanhas de serial killers, ela cria um pouco de justiça, porque não se deve lembrar do assassino, mas sim de suas vítimas.

Disponível na @netflixbrasil

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib