Versão ficcional da vida de Marilyn Monroe, “Blonde” é bruta, poderosa, dolorosa e incrivelmente bela e cínica
Por Eduardo de Assumpção*
“Blonde” (EUA, 2022) O longa, de Andrew Dominik, ultrapassa os limites da narrativa biográfica. Esta versão ficcional, da vida de Marilyn Monroe, baseada no romance de Joyce Carol Oates, é bruta, poderosa, dolorosa e incrivelmente bela e cínica em seus momentos mais fortes. O filme começa com a infância dura de Norma Jean (Lily Fisher) que inclui uma tentativa de afogamento e abandono por sua mãe (Julianne Nicholson), para então começar uma jornada de abuso da adulta Norma, agora Marilyn, nas mãos de homens.
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A obra explora a relação entre essas personagens (Norma Jean e Marilyn Monroe) e seu ambiente misógino através de uma exibição cruel de trauma e violência onde uma mulher é abusada repetidamente. Ana de Armas tem seu maior desafio como intérprete até aqui.
A atriz, que incorpora uma semelhança quase fantasmagórica, saboreia plenamente sua fusão de Norma Jeane Mortenson e Marilyn Monroe, duas personagens que, embora residam no mesmo corpo, representam espectros diferentes. Norma Jean anseia pelo amor e pela vida normal que lhe foi tirada desde a infância.
Marilyn Monroe é um símbolo sexual no comando de uma cultura machista. A encenação é colorida e surreal. Em constante transição do preto e branco para o colorido, brinca com o contraste de sua paleta, orquestra sequências tão perturbadoras quanto visualmente deslumbrantes e reproduz cenas famosas de Monroe com o apoio da ótima produção e figurino.
A trilha etérea, de Nick Cave e Warren Ellis, é, sem dúvida, um elemento forte do filme. O sexo é uma parte importante da narrativa. O chefe do estúdio, Zanuck (David Warshofsky) ataca a ainda desconhecida jovem atriz, assim como John F. Kennedy (Caspar Phillipson) mais tarde. O encontro com o presidente dos EUA, em particular, é desconfortante.
É empolgante, imersivo e único em seu atrevimento colossal, tanto que não é apenas um filme doloroso sobre Marilyn Monroe, mas sobre fama. Como um pesadelo aterrorizante sobre sucesso, poder, misoginia, Hollywood e seus processos desumanizadores, ‘Blonde’ é um longa eficaz e anárquico.
Disponível na @netflixbrasil
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib