Governo Lula vai começar no dia 1 de janeiro trazendo zero avanços para a pauta LGBT+

O terceiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva vai começar trazendo zero avanços para a pauta LGBT+. O pífio anúncio de uma secretaria especial, que já existia nos mandatos petistas, une-se à total falta de pessoas LGBT+ em altos cargos do escalãoi. Nenhum ministro, nenhuma ministra. Além disso, um relatório de transição que praticamente nos esquece, nos cita apenas UMA vez.

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É imperdoável tal falta quando pensamos que Lula foi eleito com uma margem apertada, dependeu sim de cada um dos vários movimentos sociais que o apoiaram – inclusive o nosso. Vídeos do então candidato a presidente defendendo nossa comunidade viralizaram nas redes sociais durante a campanha. Os feitos dos mandatos petistas para nós foram destacados e propagandeados.

Passada a votação, Lula parece tratar a pauta LGBT+ exatamente igual tratava em seus primeiros mandatos: uma secretaria, e está ótimo. Cabe ao movimento organizado cobrar um posicionamento mais claro de defesa da nossa vida, coisa que passou batida em quase todos os discursos do recém-eleito presidente.

Não podemos mais tolerar que nossas dores sejam usadas simplesmente “para ficar bonito”, porque “não se pode mais deixar de lado a pauta”. Ajudamos a eleger Lula e devemos cobrar, desde já, que ele nos leve (modo figurado) na subida da rampa do Palácio do Planalto, que não apenas erga a nossa bandeira, mas se preocupe com o rio de sangue que a mancha e faça algo sobre isso.

É imperdoável tal falta quando pensamos que Lula foi eleito com uma margem apertada, dependeu sim de cada um dos vários movimentos sociais que o apoiaram.

Uma secretaria LGBT+ no governo federal já estava conquistada nos mandatos anteriores Lula-Dilma. Recomeçar do mesmo ponto é ignorar a força que ganhamos nestes últimos anos – que é reconhecida pela equipe de transição no convite a importantes nomes do nosso movimento para a equipe que prepara o novo governo.

Ao anunciar com muita pompa e ares de conquista algo que já era nosso é desfazer o ótimo trabalho que Maria do Rosário, por exemplo, realizou frente ao órgão nos governos petistas. Nada contra Lulu Santos, mas cobrar algo que já existe (porque seria eleitoralmente um desastre um governo petista nos virar as costas) é ignorar os avanços ao longo de muitos anos.

Recomeçar do mesmo ponto é ignorar a força que ganhamos nestes últimos anos

Não é favor algum o que estão fazendo. Não é porque são bonzinhos. É porque é um direito nosso. Obviamente o (des)governo federal dos últimos quatro anos não trouxe nada positivo para nós, mas isso não significa que devamos nos satisfazer com o que já estava pronto. Não queremos, e não merecemos, mais do mesmo.

O governo Lula que começa seu terceiro mandato no próximo dia 1 mostrou, até agora, que ainda não entendeu que não existe mais o “sobre nós”, sem o “nós”. A criação da secretaria LGBT+ no novo governo não é um avanço real, é delírio de uma galáxia da internet que consome suas próprias estrelas, dialoga com o vazio e esquece de todo e qualquer meteoro que a agrediu.