“Joyland” é uma interrogação agridoce e melancólica da sexualidade e dos papéis de gênero
Por Eduardo de Assumpção*
“Joyland” (Paquistão, 2022) Em sua estreia, ‘Joyland’, o cineasta paquistanês Saim Sadiq, venceu o Prêmio do Júri, Un Certain Regard e o Queer Palm, em Cannes. Não é uma história feliz. É uma interrogação agridoce e melancólica da sexualidade e dos papéis de gênero, que dá muitos golpes. O filme captura a vida de uma família tradicional paquistanesa, com foco em Haider Rana (Ali Junejo), um homem quieto que vive com sua esposa Mumtaz (Rasti Farooq) à sombra de seus familiares.
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A oportunidade de ser um dançarino de apoio para uma artista trans, Biba (Alina Khan), abre um novo mundo para Haider, que desafiará as normas e expectativas da sociedade para ele e toda a sua família. Haider (Ali Junejo) nunca consegue agradar seu pai tradicional (Salmaan Peerzada). Enquanto sua esposa vai feliz para trabalhar como cabeleireira (ela gosta de sua independência), Haider fica em casa para cozinhar e cuidar das filhas de seu irmão machista Saleem (Sohail Sameer).
Para provar seu valor, Haider precisa desesperadamente de um emprego. Sadiq e a coroteirista Maggie Briggs entendem como fazer um personagem complexo, mas falho, sem difamá-lo. julgá-lo ou absolvê-lo. Haider muitas vezes luta para enfrentar seu pai; ele também cede ao irmão.
Tanto assim, ele se curva aos papéis de gênero esperados ao concordar em fazer de Mumtaz uma esposa, dona de casa e tentar ter filhos, dois resultados que ela se opõe. O que poderia ter sido apenas a saída de um jovem frustrado pelo peso sufocante do patriarcado no Paquistão, torna-se a história mais complexa de vários personagens intimamente ligados por um contexto social onde decisões e não decisões são interdependentes.
A história é tão complexa quanto original, conseguindo destacar, numa brilhante síntese, diferentes personagens, vítimas de um quadro social rígido cuja estupidez reacionária irrompe a qualquer momento, desfocando o que realmente sustenta a vida como impulso revigorante e espontâneo para a elaboração da humanidade.
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib