Produtora cultural, cantora e ativista, Paola Valentina quer abrir portas para todas as pessoas trans passarem

Paola Valentina Xavier é uma sagitariana intensa de 34 anos que ilustra a ainda árdua luta de pessoas trans para conseguirem ser quem realmente sentem que são. Produtora cultural, ativista, cantora, “mulher transexual com muito orgulho”. Um corpo político que anda pelas ruas de São Paulo conquistando seu espaço e abrindo caminhos para que outrxs também possam fazer o mesmo sem enfrentar tantos desafios.

Uma atuação que chamou a atenção não apenas do próprio movimento militante, mas também da cantora Preta Gil, que convidou Paola para ser uma das várias histórias de pessoas trans contadas no projeto “Vidas Transversais”. Uma luta que começou aos 16 anos, quando ela decidiu que não faria mais parte de um gênero que não a representava e foi em busca da Paola que sempre existiu dentro dela.

Um dos principais desafios, ela conta, foi ser recusada em empregos pelo simples fato de ser trans. “Era dolorido recompor para o dia seguinte, quando você está dilacerada e mutilada pela intolerância e preconceito. Outro grande desafio é se manter viva em um país que mais mata pessoas trans/travestis, estar viva é um privilégio.”

Na entrevista a seguir ela conta um pouco mais sobre sua caminhada e encoraja quem está em processo de transição: “resistam para existir, somente assim poderemos construir e transformar essa sociedade”.

Você sempre se sentiu Paola? Como foi perceber que era preciso mudar?

Sempre me senti uma mulher, aos meus 16 anos decidi que não viveria escondida em um gênero que não me representava, que eu queria ser livre e verdadeira com meus sentimentos, com minha essência, liberdade é conhecimento. E não tem bem maior nessa vida do que viver intensamente o que se sente.

Como foi esse processo de transição para você? Quais foram os maiores desafios?

Meu processo de transição não foi fácil, venho de uma época que não tínhamos referência de outras pessoas trans/travestis para que nos inspirassem em nossa jornada, foi o momento de desconstruir princípios familiares, enfrentar a sociedade e combater preconceitos. Meus desafios sempre foram em relação ao mercado de trabalho para pessoas trans/travestis, temos mais de 80% da nossa população nas ruas se prostituindo, afinal, nos tiram os direitos mais básicos de existir. Sempre ouvi de várias empresas;

-Seu Currículo é ótimo, mas você é uma mulher transexual, nós não contratamos!

Era dolorido recompor para o dia seguinte, quando você está dilacerada e mutilada pela intolerância e preconceito. Outro grande desafio é se manter viva em um país que mais mata pessoas trans/travestis, estar viva é um privilégio.

O que você pode dizer para quem está trilhando o mesmo caminho e passando por esses desafios?

Quero reforçar a tdxs para enfrentarem, busquem o empoderamento através do conhecimento, desafiem a máquina Estatal, resistam para existir, somente assim poderemos construir e transformar essa sociedade, afinal somos corpos políticos e esses corpos precisam ocupar espaços.

Sempre me senti uma mulher, aos meus 16 anos decidi que não viveria escondida em um gênero que não me representava, que eu queria ser livre e verdadeira com meus sentimentos, com minha essência, liberdade é conhecimento.

Você acredita que as pessoas trans têm conquistado mais espaço no mundo atual?

Diante da grande luta e militância, temos observado algumas conquistas, mas ainda temos muito mais para conquistar. E isso se dá graças a pessoas com humanidade e empatia, assim como Preta Gil.

Como é possível aumentar a representatividade e abrir mais portas para as pessoas trans?

É possível através de oportunidades, pessoas trans são excelentes profissionais, são pessoas que diante da luta diária de enfrentamento sabem o verdadeiro valor das coisas. Oxalá, que empresas consigam ter esse campo visionário da empatia, da transversalidade, possibilitando a representatividade e oportunidades para nossa população.

Como produtora cultural, você acha que isso pode ser feito por meio da arte? Como?

A arte salva, a arte me salvou! A arte nos torna pessoas criativas, sensíveis e afirmativas. Através da arte conseguimos uma interseccionalidade das diversidades. Nos permite ser o ponto de voz entre pessoas que não conseguem ter essa fala, a arte é expressiva e transparente, e isso nos torna seres humanos melhores.

Você consegue unir seu trabalho com sua experiência como pessoa trans?

Sim, graças a Deus e aos orixás, consigo unir meu trabalho, minha militância e representar essa parcela da sociedade que é tão marginalizada. Milito todos os dias, o simples fato de eu sair da minha casa é uma militância, sou o corpo que incomoda, o corpo desejado e o corpo proibido, o corpo político e corpo marginalizado, corpos que excedem os padrões implantados nessa sociedade conservadora.

Quero reforçar a tdxs para enfrentarem, busquem o empoderamento através do conhecimento, desafiem a máquina Estatal, resistam para existir, somente assim poderemos construir e transformar essa sociedade.

Como surgiu o convite para o projeto da Preta Gil? Como você se sentiu?

O convite vem de uma forma tão linda, afirmação que estamos no caminho certo, que o trabalho que estamos realizando está reverberando e ajudando muitas pessoas. Fiquei imensamente feliz e lisonjeada, afinal Preta sempre foi uma referência para mim, enquanto mulher, negra, gorda, ou seja, ela sabe o que é se sentir excluída em uma sociedade normativa. Na realidade foi um grande presente que a vida me proporcionou, tenho muita gratidão em poder estar em um clipe que fala dessa representatividade e da importância de pessoas trans/travestis em todos os espaços.

Qual a importância de projetos como este dela?

Importância de conscientização, de salvar vidas e proporcionar empatia nas pessoas, atualmente sinto que o preconceito vem da falta de conhecimento, e esclarecer nossas vidas para as pessoas é extremamente relevante.

Só o amor pode nos unir e nos salvar?

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#sóoamor pode resistir

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Instagram @paolavalentinaxavier