Dirigido por Marco Berger, “O Caçador ” trabalha tema tabu da pornografia em um filme desconfortante
Por Eduardo de Assumpção*
“O Caçador” (El Cazador, Argentina, 2020) O filme parece tirar o diretor de Marco Berger, conhecido por encharcar sua obra de homoerotismo, de sua zona de conforto e o levar a caminhos realmente inquietantes. O longa que estreou no Festival Internacional de Cinema de Rotterdam, mostra os dias de Ezequiel (Juan Pablo Cestaro), um garoto de 15 anos que está sozinho em casa enquanto os pais estão na Europa.
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Ele leva os amigos mas é quando conhece Mono, Lautaro Rodriguez, que permite que o sexo e o desejo aflorem. Ao contrário de outros filmes do diretor, todas as cenas de sexo são apenas sugeridas. Desta vez não vemos nada. O romance toma rumos inesperados e Ezequiel se vê envolvido em uma trama nebulosa que acabará afetando seu destino e o de terceiros.
O diretor trabalha um tema tabu, que é a pornografia infantil, e torna o filme desconfortante quando o coloca dentro da narrativa. Desenvolver algo tão delicado não é fácil, e Berger acertou na forma e no conteúdo de tratar o assunto. Os defeitos de caráter de Ezequiel começam a aparecer, e ele logo se vê num grande dilema moral.
A ambiguidade do personagem, que o põe em zonas obscuras marcam uma virada no filme, partindo ‘O Caçador’ em dois.
O próprio Ezequiel apesar de ser um personagem muito interessante acaba parecendo duas pessoas diferentes em determinados momentos do filme. Os chocantes efeitos que os impulsos da puberdade podem provocar. Uma fotografia linda. Sutileza em excesso para trabalhar o desconforto. Referências ao Brasil e Uruguai. Um final para te deixar de queixo caído.
O filme de Marco Berger é uma obra prima, e mostra maneiras obscuras de explorar o cinema. Disponível na @netflixbrasil.
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib