Festa Priscilla comemora 8 anos como um caleidoscópio de possibilidades de expressão de gênero
Pode ser ao som de Donna Summer, Pat Benatar, Madonna, Lady Gaga, Beyoncé… muitas de nós, as bichas, as viadas, muitas de nós já performamos dentro do nosso quarto na adolescência. Era uma ousadia que fazíamos por trás da porta trancada, com medo de sermos surpreendidas – e algumas vezes, que pesadelo, nós éramos. Acontece que o pesadelo se tornou sonho, que virou realidade em espaços assumidamente bichas como a Festa Priscilla, que vai completar 8 anos.
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Com a próxima edição marcada para o sábado, 8 de outubro, em São Paulo, com Jinkx Monsoon e ingressos esgotados, a Priscilla faz aniversário como um enorme quarto para todo mundo performar. Uma demolição de gêneros construídos ao longo de milênios que faz parte de um movimento mundial imparável. É impossível interromper a primavera de uma geração que já chega sem rótulos, sem etiquetas.
Era uma ousadia que fazíamos por trás da porta trancada, com medo de sermos surpreendidas – e algumas vezes, que pesadelo, nós éramos.
É tempo perdido, ainda bem, tentar manter amarras até mesmo corporais. Quem frequenta a Priscilla segue apenas seu próprio código de vestir. Mistura “peças masculinas” com “peças femininas”, funde e extrapola em si o que chamam de masculino e feminino, faz nascer um desfile de looks originais, inesperados e deliciosamente libertos.
Mais além, a Priscilla é para ser, para dançar, para causar, amar, beijar e alcançar a chance de brilhar com destaque – em cima do palco na noite dedicada à arte drag. As aspirantes capricham na montação, descem dos táxis com verdadeiros séquitos de assistentes segurando as caudas dos vestidos, arrumando as perucas, levando algum tipo de adereço daqueles bem criativos que a gente ama.
As veteranas Tiffany Bradshaw e Amanda Sparks são as responsáveis pela organização: circulam por este quarto enorme em festa buscando quem quer dar seu close no palco, ser vista, lembrada – e quem sabe contratada para um job depois dessa exposição. Quem sobe ao palco, tenha certeza, não deixa a oportunidade passar. A festa é uma grande vitrine de arte drag, com artistas internacionais de renome coroando cada edição. Ser vista por elas é um ótimo começo.
É tempo perdido, ainda bem, tentar manter amarras até mesmo corporais. Quem frequenta a Priscilla segue apenas seu próprio código de vestir.
Em 20 de agosto, no Cine Jóia, a diva convidada foi Manila Luzon, em uma noite aberta por meninas esforçadas e recheada por novos talentos, artistas que já arrancaram aplausos, gritos e tudo mais de direito de um público que já começa a chamá-las pelo nome. É uma evolução, um caminho a ser percorrido desde quando se é aquela chegando para arriscar tudo até quando se torna a estrela da noite.
O mérito da Festa Priscilla é oferecer um caminho seguro para essas artistas se desenvolverem e para o público, em sua maioria jovem, ávido por experimentar esse caleidoscópio de possibilidades de expressão de gênero. Ainda bem que as bichas podem finalmente fazer suas performances para todo mundo ver, porque era um talento muito lindo que ficava oculto com o manto do machismo.
Elas se jogam, dançam, cantam, dublam e, claro, sabem todas as coreografias dos hits pop. Independente da geração, a festa da bicha do quarto, esse fervo livre de opressões, sempre foi um totem da cultura gay – não um tabu.
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