“Shit & Champagne” tem elenco, escrita, direção e deliciosas referências e formas como Drollinger estica as cenas

Por Eduardo de Assumpção*

“Shit & Champagne” (EUA, 2020) D’Arcy Drollinger é um nome perfeito para uma drag queen, mas parece que isso não é uma invenção, mas possivelmente seu nome de nascimento real. De qualquer forma, Drollinger é um ator, escritor, músico, diretor, produtor e coreógrafo e também dono de boate gay. Ele claramente estudou onde as coisas deram errado e saiu em chamas com sua comédia drag excêntrica, “Shit & Champagne”, produzindo resultados espetaculares.

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Drollinger, que escreve, produz, dirige e estrela como Champagne White, é obviamente um discípulo de Divine e de John Waters. Champagne trabalha como stripper no Shaboom Boom Room, expondo hilariamente verdadeiros peitos e um merkin inesquecível. Como Divine, ela tem toda a confiança, tremeliques, língua balançando, apertos nos mamilos, discursos raivosos e o ímpeto furioso de fumar.

Tudo começa quando seu namorado Rod é assassinado na frente dela na rua. Depois de parar para fazer uma coreografia, de música e dança, Champagne sai determinada a encontrar o assassino e para isso se torna uma mestre do disfarce. Quando ela finalmente rastreia o cérebro maligno de todo o caos, ela acaba cruzando seu caminho com personagens tão excêntricos e malévolos, ou peculiares e bizarros, como uma atendente de hipermercado interpretada pela notória Alaska Thunderfuck.

A verdadeira beleza, no entanto, está no elenco, na escrita, na direção e nas deliciosas referências e formas como Drollinger estica as cenas para o máximo efeito cômico. Cada sequência funciona, contendo joias como um holofote vindo do nada quando Champagne compartilha seus sonhos. A comédia é difícil, mas a comédia drag é ainda mais.

Drollinger faz um filme camp, satírico, escandaloso, e que ao mesmo tempo serve como homenagem aos mais pervertidos filmes B da década de 1970. Algo como se John Waters dirigisse um filme de As Panteras. “Meu nome é Champagne Horowitz Jones Dickerson White. Então, eu fui casada algumas vezes. Não é da sua conta, porra!”.

A grande diferença entre este filme e os demais que vieram antes é que Drollinger sabe o que está fazendo, enchendo suas cenas de alusões enquanto esculpe um tom todo seu.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib