Jaque Santos teve a Psicologia como grande aliada em sua transição e agora atende online para ouvir todes durante a pandemia
A psicóloga Jaque Santos está lutando contra um dos mais dramáticos problemas enfrentados pela nossa população durante a pandemia: a falta de apoio psicológico – que em sua maioria, antes do isolamento, era buscado presencialmente. Para não deixar ninguém com o coração apertado, ela migrou para o virtual para continuar a realizar seu trabalho e colaborar para que todes fiquem o melhor possível nestes tempos delicados.
Virginiana de 26 anos, Jaque mora atualmente na cidade gaúcha de Ijuí e cursa Gestão de Recursos Humanos com foco em Diversidade e Inclusão, além da clínica voltada à mulheres e pessoas GBT+. Um trabalho que, ela conta à Ezatamag, se torna ainda mais importante porque o poder municipal não tem olhado com atenção para os LGBT ijuienses.
Acostumada a ouvir as pessoas, desta vez foi ela que deitou no divã para contar para nós como tem sido essa transição para o trabalho virtual, além de relembrar outra transição importante de sua vida e dizer a importância que a Psicologia teve, tem e terá nesta trajetória.
“Faz quatro anos que atuo como psicóloga, neste tempo já trabalhei com Estimulação Precoce e Reabilitação Multiprofissional, atualmente curso Gestão de Recursos Humanos com foco em Diversidade e Inclusão, além da clínica voltada à mulheres e pessoas GBT+.
Na minha cidade a organização dos serviços de saúde está voltada ao controle da pandemia, não havendo concretamente nenhuma ação específica voltada à população LGBT+ nesse momento. Contudo, aqui existe muita representatividade e através das redes sociais muitas pessoas têm promovido lives e vídeos tentando esclarecer pautas importantes da nossa comunidade.
Na minha cidade a organização dos serviços de saúde está voltada ao controle da pandemia, não havendo concretamente nenhuma ação específica voltada à população LGBT+ nesse momento.
Foi a partir desta demanda que eu desenvolvi minha proposta de atendimento psicológico voltado à pessoas LGBT+ na quarentena. Inicialmente me adequei aos trâmites legais do registro no e-Psi, que é uma plataforma do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que regulamenta o atendimento clinico através das tecnologias da informação e comunicação.
Depois dessa organização legal busquei me adaptar a essa nova realidade, buscando aprimorar a qualidade da nossa profissão através do atendimento virtual. Neste período em que enfrentamos uma crise sobre os valores do mundo tem sido muito difícil lidar com todos os impactos que existem sobre a comunidade LGBT+ no Brasil em 2020.
É importante considerar singularmente os recortes sobre a interseccionalidade, conceber gênero, etnia, condições sociais, educacionais, econômicas, as configurações dentro das famílias, enfim, nossa comunidade é muito diversa e lida com muitas formas de opressão e violência todos os dias, sendo necessário escutar com atenção todas as questões que compõem nossa realidade.
Para buscar proteção e segurança é essencial mapear formas de fortalecer nossa rede de apoio, buscando lugares e pessoas que possam nos acolher e nos escutar.
A minha trajetória com a Psicologia aconteceu a partir da minha experiência em terapia; na adolescência eu busquei ajuda para entender minha sexualidade, e foi através dessa vivência que eu me apaixonei pela profissão. Os caminhos de formação na Psicologia são áridos, pois requerem uma grande transformação interior.
Meu processo de transição aconteceu a partir da terapia também, o acompanhamento sobre esta nova fase da minha vida foi imprescindível para que eu entendesse as transformações que aconteciam dentro e fora de mim.
É importante frisar que todos os processos de transição de gênero são hiper singulares, não existe uma conformidade ou um padrão a ser seguido, cada pessoa irá desenhar essa trajetória, de acordo com sua história e seu desejo.
A mensagem que eu gostaria de deixar para as pessoas que também estão transicionando é que busquem redes de apoio para fortalecer o seu processo, busquem pessoas que também estão vivenciando essa experiência, que estão produzindo conhecimento sobre isso.
Lentamente estamos mudando os paradigmas sobre os lugares que pessoas trans ou não bináries podem ocupar na sociedade, estamos em todos os lugares e vamos buscar cada vez mais empoderar nossa representação.
Meu processo de transição aconteceu a partir da terapia também, o acompanhamento sobre esta nova fase da minha vida foi imprescindível para que eu entendesse as transformações que aconteciam dentro e fora de mim.
Hoje acredito que a Psicologia comparece para afirmar as diversas possibilidade de ser e existir dos corpos e das relações no mundo, promovendo saúde para todes e fomentando espaços discussão sobre os mecanismos de opressão e violência do sistema em que vivemos.
Acompanhar a transformação dos meus pacientes e os processos de cura de dores que foram mantidas por muitos anos tem sido um processo engrandecedor, esta é a potência que tem movido meu desejo em continuar a clínica, em apostar que as pequenas mudanças pessoais terão impacto no todo.
Meu sonho é alcançar mais pessoas através do meu trabalho, para isso estou me especializando em gestão de recursos humanos, com foco na área de diversidade e inclusão, pois compreendo que a inserção de pessoas LGBT+ no mercado de trabalho irá contribuir ainda mais sobre os processos de fortalecimento e empoderamento da comunidade.
Que sigamos construindo pontes entre nós!”
Instagram @psi.jaque