Candy Boom é cheia de crítica social para abrir espaço aos LGBT na Grande Florianópolis
Florianópolis é um dos principais destinos gays de toda a América Latina no Réveillon e no Carnaval, mas durante o ano todo há militância e festa para quem sabe da importância da conquista de espaços. Longe das multidões que ocupam as Paradas mais famosas e cheias de patrocínio comercial, a Grande Florianópolis luta para manter a bandeira em pé.
Um dos ícones emergentes nesta luta é a drag Candy Boom, responsável por muito close sim, mas também por um projeto que minimiza a carência de locais assumidamente LGBT na região. Realiza encontros e festas assumidamente cheias de diversidade, promovendo um universo de aceitação onde todes podem se assumir como são.
Capricorniana de São José, ao lado da Ilha da Magia, Candy diz que a arte drag a fisgou desde novinha, quando via apresentações de transformistas na televisão. Uma paixão que tomou cada vez mais espaço, mas ela adora: “consigo aliar meu trabalho como professora de Geografia e meu lazer à construção de narrativas para minha drag, afinal a Candy é recheada não somente de doçura, mas também de críticas sociais”.
Ela agridocemente conta mais:
Como é a cena LGBT por aí?
A cena LGBT, em relação a baladas é formada somente por uma balada que se intitula e todos sabem que é frequentada por gays, homens em sua grande maioria, e algumas poucas mulheres héteros ou bi ou lésbicas (essas últimas bem raras). Há baladas que se intitulam alternativas, nas quais muitos LGBTs vão e uma das razões de irem é para se camuflarem entre os héteros e as famílias não descobrirem suas sexualidades.
Tem espaço para as drags?
Há pouco espaço para apresentações drags na Grande Florianópolis. Conheço somente o Blues Velvet, no qual me apresento às vezes. Além disso, eles possuem uma maravilhosa hostess drag. Tem o Jivago que chama DJ drag às vezes e possui uma hostess drag maravilhosa. Há também o Taliesyn que abria espaço para apresentações drag. Algumas das drags da grande Florianópolis vão para outras cidades do Estado para performar ou/e para discotecar. Há a Blueberry produções que atualmente atua em São José e eu sou hostess e minha amiga drag Toxy é dj.
Como a arte drag surgiu na sua vida? Qual espaço ela ocupa hoje?
A arte drag surgiu na minha vida ainda muito criança assistindo os transformistas na TV aberta e personagens que serviam muito de chacota para o público hétero. A nova geração de drags, a que me influenciou mais diretamente hoje em dia para ser uma, são as drags de Rupaul’s Drag Race e do reality mexicano La Mas Draga, que minha mãe drag Toxy me mostrou. E surgiu também da minha admiração pelas drags locais, porque vi o início da Toxy. Nos últimos meses, toda música que gosto já sonho com uma performance. Eu sempre desejei ser cantora, mas não tenho técnica vocal, e poder fazer lipsync me anima muito, poder contar histórias com meu corpo e outros artifícios além do lipsync me empolga muito. A militância em si me empolga e poder ajudar meus colegas tanto a fazerem o que gostam quanto os abraçar é muito importante para mim. O espaço na minha vida que a arte drag ocupa é quase inteiro. Eu consigo aliar meu trabalho como professora de Geografia e meu lazer à construção de narrativas para minha drag, afinal a Candy é recheada não somente de doçura, mas também de críticas sociais.
Poder fazer lipsync me anima muito, poder contar histórias com meu corpo e outros artifícios além do lipsync me empolga muito. A militância em si me empolga e poder ajudar.
O que é o @e_diversidade? Qual o objetivo?
O @e_diversidade é um grupo que pensa em divertir as pessoas e ao mesmo tempo conscientizar, é um grupo que promove eventos/encontros nos quais há interações socioculturais mais amplas e abertas focadas em sociabilidade da comunidade LGBTQIA+, aliás, incentiva a formação dessa comunidade unindo pessoas diversas. O objetivo central é promover essa integração.
Como a comunicação e informação podem ajudar o público LGBT a construir sua autoestima?
Nós não vivemos de forma isolada. Os humanos se desenvolvem através de sociabilidades. É muito importante que as pessoas se aceitem como elas são e sejam quem elas querem ser, poderem aprender com o outro, e é através desse contato com o outro, com aqueles que possuem histórias de vida de conquista de espaços, que a própria autoestima se constrói. É muito mais difícil estando só, enfrentando preconceitos sozinho. A informação de que ser LGBTQIA+ não é ser doente é muito importante para evitar grandes crises existenciais ou mesmo se reerguer da depressão.
Como surgiu a Blueberry? Qual a importância dela na lita contra o preconceito?
Blueberry surgiu de alguns amigos que perceberam a ausência ou pouca presença de baladas verdadeiramente LGBTs, além de terem percebido a pouca valorização drag no cenário da grande Florianópolis. É muito importante existir uma produtora que pensa na diversão, no entretenimento de um público diverso que não está interessado somente em dançar ou beber, mas está preocupado com a conquista de espaços, a conquista de lugares que verdadeiramente são feitos por LGBTs para LGBTs.
É muito complicado porque não há tanto apoio de empresas como as Paradas de São Paulo recebem.
Como é o clima na Parada de Florianópolis?
As paradas da diversidade da Grande Florianópolis estão retomando sua força e energia. Eu acho ruim a de Florianópolis ter saído da beira-mar norte, mas o espaço da beira-mar continental é excelente e temos uma verdadeira passeata em homenagem ao amor. Na parada de São José eu só fui em uma edição, não tenho notícias de mais edições dela. E eu sei que houve uma em Palhoça feita por alguns dos organizadores do @e_diversidade que teve um peso importante, mas que não teve fôlego (financeiro né) para outras edições. É muito complicado porque não há tanto apoio de empresas como as Paradas de São Paulo recebem. Aqui somente vi a Amstel trocar embalagem de cervejas e estar junto na Parada de Florianópolis e vi uma edição Rainbow do Doritos, em São Paulo várias empresas mudam suas cores e não somente no dia da Parada. Está faltando maior visibilidade para as Paradas daqui.
@candyboomdrag
@e_diversidade