Calêendula mistura referências poderosas consigo mesma e não para de produzir novidades
Calêendula é uma geminiana nascida em Atibaia (SP) que há 25 primaveras embeleza o campo das artes. Mas se engana quem pensa que ela é só para alegrar os olhos, traz um discurso potente e bem feito contra opressões, faz humor para pedir mais amor e não cessa de produzir novas e ótimas músicas.
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Mistura Bob Fosse, Dzi Croquettes, Michael Jackson, Britney Spears, Pina Bausch e Klauss Vianna consigo mesma, a quem é muito fiel. “Fiz uma pesquisa de como deixar meu trabalho musical mais pop, e acabei percebendo que eu estava descaracterizando minhas músicas e imagem, indo pra um lugar comercial que não compõe com meu estilo”, conta à Ezatamag.
Ela retomou o caminho – usando tudo como experiência – e está em processo de seleção das músicas de seu próximo álbum, previsto para 2023. Se prepara para estrear um espetáculo autoral ainda neste ano e brilha em palcos paulistanos como Cabaret da Cecília e Nossa Casa Confraria.
Abram as cortinas:
Como está sendo esta retomada depois da pandemia? Sua agenda foi muito afetada?
Não foi um mau retorno em questão de agendas de shows, considerando que voltamos de uma pandemia. Voltei a fazer shows em setembro do ano passado em duas casas que mais faziam shows em SP antes da pandemia (Cabaret da Cecília e Nossa Casa Confraria), e estou conseguindo fazer quase todo mês. Mas também fiz e faço shows em outras casas e bares de vez em quando.
O que mudou no seu trabalho depois desses dois anos? O que você andou aprontando?
Sinto que meu trabalho amadureceu em todas as formas: musicalmente, coreograficamente, nos figurinos, estrutura de show, estética, produção, etc. Na pandemia eu fiz uma pesquisa de como deixar meu trabalho musical mais pop, e acabei percebendo que eu estava descaracterizando minhas músicas e imagem, indo pra um lugar comercial que não compõe com meu estilo. Mas eu peguei esse universo comercial pop pra poder acrescentar de alguma forma no meu trabalho, porque tudo é material de criação potente pra deixar o trabalho mais profissional e ter possibilidade de atingir mais pessoas, mas sem perder a minha essência.
Quais os planos para este ano?
Este ano estou montando um show novo, “Bueiro Experience”, com mais bailarines, figurinos, luz, som e uma banda pra tocar ao vivo. Estou há seis meses no processo de montagem do show e está quase pronto! Ainda neste semestre o show irá estrear no Casarão Vila Guilherme, um centro cultural maravilhoso da Zona Norte! O processo é feito totalmente de forma independente, então gosto de criar formas de o público poder colaborar, pra quem quiser, e ajudar a custear a produção. Além disso, estou no processo de produção do meu próximo álbum. As músicas já estão prontas, mas preciso organizar as faixas e descartar algumas, pois tem muita música! Vai ser um álbum muito teatral, festivo, rock, electro, pop, engraçado, lúdico, assustador e abordará vários assuntos. O lançamento está previsto pra 2023.
Como você constrói suas performances? O que te inspira?
Depende do show, da performance. O meu show autoral, geralmente, eu monto as coreografias e performances em cima da música. Gosto de utilizar e me inspirar, no estilo de coreografia, nas gatas do jazz old school: Bob Fosse, Dzi Croquettes, Michael Jackson, Britney Spears. Mas eu adoro colocar elementos da dança contemporânea ou teatro dança, como Pina Bausch e Klauss Vianna. Além da parte da dança, gosto de trazer a teatralidade: humor, lúdico, bufão, acidez, crítica, política, deboche com o fascismo e o moralismo. As letras das músicas e as cenas dentro do show são todas baseadas nessas qualidades.
Peguei esse universo comercial pop pra poder acrescentar de alguma forma no meu trabalho, porque tudo é material de criação potente.
Você já tem quantos anos de trajetória artística? Qual a principal lição que você aprendeu neste caminho?
Comecei desde criança a ser artista viada. Tenho 8 anos morando em São Paulo (sou de Atibaia, interior de SP) e desde então venho estudando e trabalhando na área artística. Mas comecei a fazer meus shows autorais em 2019, com 22 anos, rodando por São Paulo. O que aprendi nesses anos é que não quero parar de trabalhar e de fazer o que gosto de fazer, por mais que às vezes seja bem difícil; é preciso sempre manter amizade com quem eu confio e me sinto segura; sempre ajudar outras artistas quando eu posso; e o que sempre preciso relembrar: não me iludir com o mundo do glamour e fama, o importante é fazer meu trabalho e buscar prosperar nele.
Qual magia move um bom cabaré?
Autenticidade, música, shows, birita e pegação! Hahahaha
Como foi o processo de produção do EP? Qual a mensagem dele?
O EP ”Rolê Pelo Bueiro” começou a ser composto e produzido em 2020 na minha casa, onde faço minhas produções. Foi feito de forma totalmente independente e com ajuda de algumas artistas. Foi um caos poder escolher qual música ia entrar ou ficar, pois cada música tinha um estilo diferente (e tem), e eu estava na onda de experimentar sonoridades pop 90 e 2000, e o EP iria ter totalmente essa sonoridade. Mas ao longo do processo fui percebendo que essa minha pesquisa musical não era pro meu trabalho, mas coloquei um pouco dela também, como nas faixas ”Tik Tok” (com videoclipe) e ”Olhar Castanho” (composição de Mateus Caps), e também na faixa solta ”Tudo de Bom”. Ouvindo elas vocês podem pensar: ”nossa, já ouvi isso em algum lugar, e isso é muito 2000”. No EP, misturei energias solares, ácidas, amorosas e energias mais sombrias (como no caso das duas últimas faixas). Fala sobre autoaceitação, contas pra pagar, amores correspondidos e não correspondidos, rituais e feitiços. Depois de pronto, junto com uma assessoria, lançamos e divulgamos o EP e videoclipes nas plataformas. Geralmente pessoas próximas dizem gostar mais do meu primeiro álbum, de 2019, pois tem uma essência mais forte do meu trabalho, que vou tentar renasce-la nesse próximo álbum que estou produzindo.
É preciso sempre manter amizade com quem eu confio e me sinto segura; sempre ajudar outras artistas quando eu posso.
Agora me conta o seu maior sonho!
Poder viver num mundo em que possamos andar na rua sem se preocupar em ser agredidas pelo que somos. Também poder fazer muitos shows em vários lugares