“Garoto Chiffon” traz sensibilidade, ternura e um leve humor ácido no primeiro longa de Nicolas Maury

Por Eduardo de Assumpção*

“Garoto Chiffon” (Garçon Chiffon, França, 2020) Para seu primeiro filme como diretor, Nicolas Maury deu a si mesmo o papel principal. Seu Garoto Chiffon, apelido dado a ele carinhosamente por sua mãe (Nathalie Baye) quando ele era pequeno, é uma delícia de sensibilidade, de ternura e de um leve humor ácido.

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Centrando seu assunto em torno de auto-rejeição e autoaceitação, o cenário alinha ambas as situações conhecidas e coloca em pauta entrevistas de emprego, crises de relacionamento, sessões com o psiquiatra, etc. Um retrato complexo de um jovem que busca acima de tudo a paz interior, Garoto Chiffon deve muito a papéis secundários como Nathalie Baye como mãe desatenta, mas benevolente, Arnaud Valois, de 120 batimentos por minuto(2017), como Albert o namorado exasperado, ou Laure Calamy, incrível como Sylve, uma diretora arrasada, em meio a um colapso nervoso e mais exaustivo.

Entre pontos infantilizados, memórias nostálgicas ampliadas, acompanhadas de canções de Vanessa Paradis, e alguns momentos lúdicos de fantasia assumida, o filme esconde boas doses de emoção em meio a um mundo colorido, onde o personagem principal busca por si mesmo. Jérémie é cativante. E engraçado também. Pode-se dizer que seu autor-diretor-intérprete Nicolas Maury tem o dom do humor, já notado em Faca no Coração(2018), de Yann Gonzalez.

O roteiro do filme é colaborado com dois talentos no estudo do comportamento no cinema francês: a roteirista Maud Ameline e a cineasta Sophie Fillières. O trio conseguiu uma fantasia existencial sutil, que vai da poesia cotidiana à descrição paranóica delirante, do burlesco arrítmico ao conto iniciativo. No centro, um personagem por natureza melancólico.

A câmera o acompanha do começo ao fim em suas loucas aventuras, como uma criatura embebida em uma infinidade de reações em cadeia que o nutrem e o moldam. Garoto Chiffon é saboroso, das situações aos diálogos, dos dramas internos às fugas externas, do reencontro de pessoas ciumentas anônimas aos desencontros. Nunca cínico, o tom celebra uma humanidade nem sempre compatível com padrões.

Disponível na Reserva @imovision

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib