Joyce Montinelli é a Travesti Sertaneja Anos 2000 contra o preconceito no sertão da Paraíba
Do sertão da Paraíba ecoa a voz de Joyce Montinelli pela garantia de direitos à população LGBT. Moradora de Cajazeiras, aos 32 anos ela sonha que todes tenham acesso aos serviços e direitos básicos – e é por isso que faz questão de ocupar todo tipo de espaço para lutar pela dignidade dela e de tantas outras.
Um trabalho que ela sabe ser necessário por ter em sua cidade, ainda, cerca de 90% das mulheres trans tendo que sobreviver da prostituição, como ela conta à Ezatamag. Joyce também não tem um emprego fixo porque é travesti.
Mesmo assim, hoje ela é reconhecida na cidade como uma pessoa capaz, que batalha, se posiciona e corre atrás do que quer. “Ser uma travesti sertaneja representa a resistência da mulher travesti que foi vítima de todos os tipos de violência, física, verbal e a pior de todas, a psicológica.”
“Apesar de muitas lutas, Cajazeiras é muito avançada em políticas públicas para a população LGBT. Temos por lei a Gerência Municipal LGBT, Conselho Municipal LGBT, temos o dia 17 de Agosto como o Dia Municipal de Combate à LGBTfobia. Temos uma lei sobre respeito ao nome social em locais públicos e privados.
Tem sido muito difícil trabalhar na minha cidade, porque mesmo conhecida não sou contratada por questões de política partidária. Eu trabalho com arte e políticas públicas para nossa população LGBT, tenho o projeto Vidas Trans Cajazeiras Paraíba, onde ajudo e oriento a população de travestis, transexuais, transgenêros, homens trans a fazer a retificação de nome e gênero.
A Joyce Montinelly nasceu aos 9 anos de idade pra família inteira. Meu pai saiu de dentro de casa por não aceitar minha orientação sexual e identidade de gênero. Trabalhei em casas de família como faxineira ou doméstica, fiz prostituição para complementar a renda e ajudar dentro de casa.
Saí da prostituição e tive um cargo municipal como orientadora social, ajudava a assistente social e psicóloga nas visitas domiciliares por conhecer todos os bairros carentes, as pessoas vulneráveis, que vivem em situação de risco. E trabalho no CRAS os grupos de convivência de mulheres, gestantes, idosas e incluí o grupo LGBT.
Inspiro muitas pessoas por ser a única travesti ativista do movimento LGBT de Cajazeiras que viajou vários Estados pra garantir políticas públicas efetivas pra nossa população. É um peso e responsabilidade grande ser uma referência porque as pessoas acham que somos a militância o tempo inteiro, mas sou humana e também tenho falhas, erros, defeitos.
É uma responsabilidade imensa porque ocupo muitos lugares e espaços na cidade de Cajazeiras, como na universidade, nas quatro faculdades de grande nome e com pessoas de Estados e cidades diferentes. Faço muitas falas em praça em eventos do município – mesmo sem ser convidada. É um meio de intervenção LGBT pra mostrar que nós estamos aqui, temos direitos, voz, mostrar que nossa visibilidade nunca será ocultada.
Sofro muito na minha cidade por não ter um emprego fixo. É triste, sei que é porque sou travesti. Sei que em grande parte é também pela questão político-partidária. Cajazeiras não é diferente das outras cidades e Estados, a gente tem 90% da população de travestis e transexuais na prostituição por falta de oportunidade no mercado de trabalho.
É preciso que a população LGBT busque estudar, fazer cursos. Entre em uma universidade ou faculdade e tenha uma formação. Garantir seu emprego e uma vida digna e humanizada. Hoje tudo é mais fácil, temos redes sociais pra nos empoderar e capacitar, tudo pronto em todas as plataformas digitais para nossa formação.
Meu sonho é lutar mais ainda pela garantia de políticas públicas para os LGBT de Cajazeiras e a nível nacional. Ter uma casa de acolhimento pra população LGBT, que é expulsa de casa ou vive em situações de risco. Não quero riqueza alguma que não possa ser para ajudar meu próximo, abraçar ou acolher.