Montação dá força para drag sair das drogas e brilhar conquistando espaço plus size
A história de vida da hoje maravilhosa maquiadora e estudante Tandara, drag de 26 anos da Zona Sul de São Paulo, inclui páginas com dois anos onde a cocaína atrapalhou um pouco o brilho desse caminhar. Mas quando Tandara surgia, montada, deslumbrante, política, a alegria da aceitação era tão grande e suficiente que não havia espaço para as drogas.
Ela conta que “quando me montava essa vontade passava, eu não dizia ‘SIM’, só queria me sentir bem e realizado”. Foi com muita força na peruca que ela deixou de lado a cocaína para focar seriamente na construção de sua drag, que chega animada se colocando no mundo como plus size, politizada, crítica e pronta para quebrar padrões estéticos preconceituosos.
Tandara encontrou na arte drag um caminho para se tornar forte, ficar em pé, coisa que ela deseja também para outras. Na entrevista a seguir ela conta como foi esse processo e dispara: “o espaço quem faz é a gente, se não te dão espaço, faça você mesma”.
Como a arte drag entrou na sua vida?
Vim morar em São Paulo logo no meio da minha adolescência, comecei o 1° ano do Ensino Médio aqui, foi aí que comecei a me descobrir, fiz amizades boas e outras nem tanto, mas ambas me ajudaram a me conhecer melhor e ver o que eu realmente era por dentro. Me assumi aos 15 anos de idade, minha família um tanto conservadora, porém hoje em dia as coisas estão melhores. Comecei a me montar para sair com os amigos, ir em baladas perto de casa. Na época entre meus 18 e 20 anos eu entrei nas drogas, fui usuário de cocaína durante dois anos da minha vida, o que me tirava das drogas era me montar, sério! Eu sempre usava quando saía com o pessoal e até mesmo sozinho, mas quando me montava essa vontade passava, eu não dizia “SIM”, só queria me sentir bem e realizado, acredito eu que isso foi uma das peças-chave para me ajudar a sair deste caminho. Com a arte de se montar veio a felicidade, tropeços e desafios, mas sempre encarava de frente.
Existe mercado para drags plus size? Ele tem aumentado?
Vou ser sincero: podem achar lindas, maravilhosas e um monte de outras coisas boas, mas na verdade isso não tem valor, são palavras vazias, ou você é indicada por alguém que está liderando algo, ou você não é nada. Claro, isso não serve para todas, mas as minorias sofrem mais por isso.
Vou ser sincero: podem achar lindas, maravilhosas e um monte de outras coisas boas, mas na verdade isso não tem valor.
Você acredita que seu corpo é um ato político? Por quê?
Eu tenho este problema que é a obesidade, não é fácil viver cercado de olhares maldosos, mas quando alguém tá feliz ela enfrenta tudo, não tem medo de nada, minha armadura, “A TANDARA”, é o que me prevalece. Eu super me acho linda, maravilhosa, simpática e divertida, se isso não é um ato político de aceitação, eu não sei o que é.
Como enfrentar os preconceitos? Eles te abalam?
O preconceito é a forma encarnada da falta de aceitação, as pessoas não julgam por que fulano é isso ou aquilo, julgam por que se “eles/elas” não são o que sentem por dentro, ninguém mais deve ser. O medo de outras pessoas se sentirem realizadas e elas não, é o que as martirizam, julgar e apontar é só o medo delas falando alto. Não vou mentir, dói muito, dói tanto que já chorei sozinho, dói tanto que nem dá para acreditar, mas como qualquer outro problema, a gente deve se apegar em algo e nos fortalecer ali, junto com a nossa fé em nós mesmos.
Não vou mentir, dói muito, dói tanto que já chorei sozinho, dói tanto que nem dá para acreditar.
O que você diria para quem está começando com a arte drag e também é plus size? Todas têm espaço?
Diria que: não tenha medo, todas começam de algum lugar, todas têm a capacidade de conquistar o espaço que merecem, basta você ter força para aguentar os tapas que a vida dá, e mais força ainda para se manter firme em pé. O espaço quem faz é a gente, se não te dão espaço, faça você mesma.
De alguma maneira a drag te ajudou na aceitação da sua sexualidade?
Ser drag não só me ajudou a ser quem eu sou, a me identificar, como também me mostrou novos horizontes e sonhos.
Você acha que o mundo não abre mais espaço para os padrões de antes? Chegou a hora da tolerância?
O mundo sempre foi assim, padrões mudam o tempo todo, as pessoas querem e buscam algo novo para as completar. A falta de tolerância vem daí, o fato de viverem em constante movimento faz com que abominem o que não as representa. Por isso vemos os padrões divididos, é notável isso.
Instagram @eumesmatandara
Deivid
26/09/2019 17:13
Aaaah meu amor já disse vc merece o mundo … Te acompanho a anos e sei o que já passou e passa mais também sei o tipo de ser humano que você (incrivel, sensacional, entre outras coisas maravilhosas … ) Vc sim é um belo exemplo para todas que já passou pela a mesma situação espero que sirva para muitas …
Maria Clara
26/09/2019 21:00
É muito orgulho que sinto em vê o teu crescimento, meu amor, sou muito grata por vc como sobrinha, e por ter me ajudado a superar os meus preconceitos. Sei que te magoei muito em palavras e ações e lhe peço perdão sempre pq infelizmente só estava replicando padrões e frases feitas que me foram impostas. Tenho muito orgulho de ti. Te amo meu amor 😍
Redação
27/09/2019 09:58
Que comentário lindo!