Izabela da Silva é Orgulho LGBT+ no esporte brasileiro

Por Artur Vieira*

A trajetória da atleta de 29 anos Izabela da Silva, natural de Adamantina (SP) e especializada no lançamento de disco e arremesso de peso, é marcada por desafios inesperados. Contudo, a competidora não permite que nenhum obstáculo a desanime, especialmente após enfrentar uma situação constrangedora antes das Olimpíadas de Paris 2024. Ela foi surpreendida pela falta de numeração adequada nos uniformes fornecidos para as atletas femininas.

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A fornecedora mundial de uniformes esportivos, que atendia a Confederação Brasileira de Atletismo, produzia apenas até os tamanhos “M” para tops femininos – uma peça usada para atividades físicas, sem gola e sem mangas, que cobre a parte superior do tronco. A situação expôs a falta de inclusão e respeito à diversidade de corpos no universo esportivo, algo inaceitável para qualquer atleta, principalmente para uma brasileira que conquistou a qualificação olímpica batendo o índice da categoria no arremesso de disco.

A participação de Izabela nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 foi acompanhada com entusiasmo por torcedores brasileiros, embora não tenha conseguido manter o ritmo de seus melhores desempenhos – ficando fora da final do lançamento de disco – sua presença nas competições foi um marco. A atleta se destacou não apenas pelo talento, mas também pela resiliência em enfrentar desafios tanto dentro quanto fora das pistas.

Atenção à Saúde Mental
Ela reconhece a importância da saúde mental para a performance esportiva e procurou acompanhamento psicológico após retornar ao Brasil. Embora antes contasse com o apoio de um coach mental, a atleta decidiu iniciar um trabalho terapêutico psicológico para lidar melhor com suas emoções e ansiedades. A decisão de buscar ajuda profissional foi um passo importante para aprimorar seu equilíbrio emocional e, assim, melhorar seu desempenho nas competições.

“Paris foi muito diferente de Tóquio. Tive momentos de muita ansiedade. Eu estava preparada fisicamente, mas não emocionalmente”

Durante a entrevista de 40 minutos, ficou evidente a confiança e a energia renovada da atleta. Ela compartilhou detalhes sobre sua rotina intensa de treinos, feitosde segunda à sexta-feira, com sessões tanto pela manhã quanto à tarde, além dos sábados, dedicados ao fortalecimento muscular. Essa preparação é direcionada ao Mundial de Atletismo, previsto para o segundo semestre de 2025, que levará Izabela novamente a Tóquio.

Orgulho e Representatividade LGBT+
Izabela também se destaca como uma importante representante da comunidade LGBT+ no esporte. Assumidamente lésbica, ela faz parte do grupo de atletas olímpicos que têm orgulho de sua identidade e contribuem para a visibilidade e inclusão da comunidade no cenário esportivo. A atleta expressa seu agradecimento aos membros da comunidade LGBT+ pelo carinho e apoio que recebeu durante sua participação em Paris.

“Agradeço à minha comunidade LGBT+ pelo carinho e respeito. Contem sempre com meu apoio e representatividade.”

No entanto, apesar de seu destaque e reconhecimento, Izabela enfrenta desafios relacionados a preconceitos velados no universo esportivo. Ela relata dificuldades para garantir patrocínios, especialmente em comparação com outras atletas que se encaixam no perfil tradicional de magras, brancas e heterossexuais, que frequentemente recebem mais apoio de marcas e protagonizam campanhas publicitárias. Em pleno 2025, é inaceitável que uma atleta de destaque, que representa com tanto orgulho o Brasil, enfrente essas barreiras.

*Artur Vieira é cristão, gay e jornalista que trabalha com o público LGBT+ desde 2013 na internet através do perfil @devoltaaoreino